domingo, 28 de setembro de 2008

A Falta

Hoje tive um encontro belíssimo.
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Fui à Casa França-Brasil assistir o espetáculo - e que espetáculo - "A Falta que nos Move", encenada pela Cia. Vértice de Teatro, e saí de lá completamente extasiada. Encantada. Apaixonada. Dolorida. Revirada. Acarinhada. Acolhida. Arrebatada. Repleta. Repleta de vida!
.
No convite, a pergunta: "Qual é a falta que nos move? Que ausência é essa que nos impulsiona à ação? Mobiliza nosso desejo e nos leva a formular perguntas? Provavelmente não existe uma única resposta. Cada um, em cada tempo encontra ou busca respostas. Nesta experimentação teatral a resposta aparece no instante, no momento presente da ação, no que está 'entre', no que se entrevê, na ponte que se estabelece no diálogo, nas relações, no movimento, nas histórias que contamos e contam para nós, nas histórias que nos formam, na memória, na tênue divisão entre verdade e mentira, ou pontos de vista, entre o que é real e o que é ficcional, entre o que é a pessoa e a pessoa que os outros vêem em nós, será isso um personagem? Nós nos deixamos levar pela vontade de cruzar fronteiras, e estamos tentando olhar pelos buracos das nossas fechaduras, sem saber se o que veremos é inventado pelo nosso desejo ou é a realidade que se projeta em nós. Como em um jogo, iniciamos a partida e deixamos ela nos contagiar". (Christiane Jatahy, diretora e dramaturga)
.

Os atores/personagens - lindos, lindos, lindos - preparam um jantar enquanto aguardam a chegada de um sexto elemento do grupo, que não se sabe quem é, quando chegará ou mesmo se virá. Eles bebem e preparam um jantar enquanto esperam. A história se desenrola em meio à espera. Não fica claro se estão representando ou improvisando em cena, já que os sentimentos explorados pelos atores - sua revelação ou não ao público - é o núcleo do conceito da peça. São homens, mulheres, que sofrem, se alegram, se entediam, se perdem, se encontram, se rebelam, se amam, se escondem, se revelam, e escolhem a cada novo instante como encarar suas esperas e despedidas. Escolhem a todo momento como querem viver neste instante.

"Somos muitos. Somos poucos. Somos encontros e esbarrões. Retas que convergem. Relações. Somos pares. Parcerias. Fronteiras. Singularidades diluídas. Carne. Febre. Somos incógnitos. Somos anônimos.Empilhados. Em dobras. Partidos. Incompletos. Contínuos. Afirmativos. Sem medida. Perceptivos. Sentimos a falta e ela nos move". (Christiane Jatahy)

Foi um espetáculo de entrega. Uma linda experiência de vida. Valeu cada minuto com cada um deles... mas a redenção, a explosão de Kiko Mascarenhas ao som de Jokerman (Bob Dylan), na versão de Caetano, foi uma das coisas mais lindas que já vi em minha vida! Um momento para guardar na memória para sempre.

A Falta

Hoje tive um encontro belíssimo.
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Fui à Casa França-Brasil assistir o espetáculo - e que espetáculo - "A Falta que nos Move", encenada pela Cia. Vértice de Teatro, e saí de lá completamente extasiada. Encantada. Apaixonada. Dolorida. Revirada. Acarinhada. Acolhida. Arrebatada. Repleta. Repleta de vida!
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No convite, a pergunta: "Qual é a falta que nos move? Que ausência é essa que nos impulsiona à ação? Mobiliza nosso desejo e nos leva a formular perguntas? Provavelmente não existe uma única resposta. Cada um, em cada tempo encontra ou busca respostas. Nesta experimentação teatral a resposta aparece no instante, no momento presente da ação, no que está 'entre', no que se entrevê, na ponte que se estabelece no diálogo, nas relações, no movimento, nas histórias que contamos e contam para nós, nas histórias que nos formam, na memória, na tênue divisão entre verdade e mentira, ou pontos de vista, entre o que é real e o que é ficcional, entre o que é a pessoa e a pessoa que os outros vêem em nós, será isso um personagem? Nós nos deixamos levar pela vontade de cruzar fronteiras, e estamos tentando olhar pelos buracos das nossas fechaduras, sem saber se o que veremos é inventado pelo nosso desejo ou é a realidade que se projeta em nós. Como em um jogo, iniciamos a partida e deixamos ela nos contagiar". (Christiane Jatahy, diretora e dramaturga)
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Os atores/personagens - lindos, lindos, lindos - preparam um jantar enquanto aguardam a chegada de um sexto elemento do grupo, que não se sabe quem é, quando chegará ou mesmo se virá. Eles bebem e preparam um jantar enquanto esperam. A história se desenrola em meio à espera. Não fica claro se estão representando ou improvisando em cena, já que os sentimentos explorados pelos atores - sua revelação ou não ao público - é o núcleo do conceito da peça. São homens, mulheres, que sofrem, se alegram, se entediam, se perdem, se encontram, se rebelam, se amam, se escondem, se revelam, e escolhem a cada novo instante como encarar suas esperas e despedidas. Escolhem a todo momento como querem viver neste instante.

"Somos muitos. Somos poucos. Somos encontros e esbarrões. Retas que convergem. Relações. Somos pares. Parcerias. Fronteiras. Singularidades diluídas. Carne. Febre. Somos incógnitos. Somos anônimos.Empilhados. Em dobras. Partidos. Incompletos. Contínuos. Afirmativos. Sem medida. Perceptivos. Sentimos a falta e ela nos move". (Christiane Jatahy)

Foi um espetáculo de entrega. Uma linda experiência de vida. Valeu cada minuto com cada um deles... mas a redenção, a explosão de Kiko Mascarenhas ao som de Jokerman (Bob Dylan), na versão de Caetano, foi uma das coisas mais lindas que já vi em minha vida! Um momento para guardar na memória para sempre.

sábado, 27 de setembro de 2008

Felicidade

(Henri Cartier-Bresson/Magnum, 1952, Rua Mouffetard, Paris)

Sabe aquele tipo de pessoa otimista por natureza, positiva por definição? Pois é. Sou eu. Às vezes taxada de boba, ingênua, sonhadora, maluca - os termos variam de acordo com o crítico da hora -, não importa, a cada dia que passa, na contramão de muitas conveniências e expectativas, percebo que venho me interessando mais e mais pela "tal" felicidade e tudo o que lhe diz respeito. Não a sua busca, mas a própria felicidade tem se tornado absoluta prioridade em minha vida, eixo de todas as minhas atividades, norte das minhas escolhas.

No ano passado, fui ao Centro Cultural do Banco do Brasil conferir o trabalho de alguns anjos incansáveis - para outros apenas fotógrafos -, que se propuseram a capturar um instante de felicidade em uma imagem. O resultado não poderia ter sido mais... feliz.

(Martine Frank/Magnun, 1996, Tulku Kentrol Lodro Rabsel com seu tutor Lhagyel, no Mosteiro de Shechen, Nepal)

Com o título “Instantâneos da Felicidade”, a mostra que reúne 50 fotografias de momentos felizes - que integram a coleção da Maison Européenne de la Photographie (MEP), de Paris - saiu do CCBB, no de Janeiro, e partiu direto, sem escalas, para o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, onde ficou até janeiro deste ano.

(Édouard Boubat/Rapho, 1989, Cerejeira Japonesa)

Para onde ela foi depois de ter feito de Curitiba um lugar mais feliz de se viver, eu não sei - vale a busca -, mas ainda sobre o tema, andei lendo recentemente algumas matérias sobre o que os entendidos do assunto chamam de "Psicologia Positiva" - que seria um novo ramo da psicologia que se propõe a investigar variantes, possibilidades e mecanismos para as pessoas se tornarem mais felizes - e fiquei surpresa com o que vi.

Jean-philippe Charbonnier/Eyedea, 1979, O Segredo, Eglantine e Laurence, Paris)

Segundo os especialistas, sentimentos de prazer e desprazer são relativamente independentes - o que significa dizer que a ausência de sofrimento, de problemas, não garante uma vida feliz a ninguém! -, a felicidade não é para todo mundo - mas apenas para aqueles dispostos a trabalhar por ela -, e o trabalho para o aumento da felicidade tem suas limitações.

Pesquisas nessa área indicam que os "determinantes" da felicidade podem ser definidos em: fatores genéticos (50%), circunstâncias (10%) e atividade intencional (40%), que seria a nossa "margem de manobra", representada pelas escolhas que fazemos em nossas vidas e pela forma como pensamos.

[A idéia é que ainda que você seja geneticamente inviável e circunstancialmente fodido, ainda teria 40% de chances de ser feliz na vida. Resumindo, é isso.]

A intenção é até boa, mas considerando que não gosto nada de matemática, muito menos de definições cartesianas para valores tão subjetivos como esse, fica aqui o meu protesto quanto aos tais 40% de boa-vontade do sujeito, até que me apresentem uma planilha de cálculo informando, por exemplo, quantos Kwh de energia eu preciso produzir com o meu "trabalho" para atingir essa meta que me cabe... pensou a mesma coisa que eu (vide o post "Fuck the Pig")?!!

(Henri Cartier-Bresson/Magnum, 1969, Boulevard Diderot, Paris)

Eu escolho acreditar no ser humano. Pronto. Está decidido. Eu acredito no seu desejo. Na sua fé.

E entre os números e as imagens, fico com o cachorrinho aqui de cima: há que se ter olhos para ver, porque a felicidade está por toda parte...

Felicidade

(Henri Cartier-Bresson/Magnum, 1952, Rua Mouffetard, Paris)

Sabe aquele tipo de pessoa otimista por natureza, positiva por definição? Pois é. Sou eu. Às vezes taxada de boba, ingênua, sonhadora, maluca - os termos variam de acordo com o crítico da hora -, não importa, a cada dia que passa, na contramão de muitas conveniências e expectativas, percebo que venho me interessando mais e mais pela "tal" felicidade e tudo o que lhe diz respeito. Não a sua busca, mas a própria felicidade tem se tornado absoluta prioridade em minha vida, eixo de todas as minhas atividades, norte das minhas escolhas.

No ano passado, fui ao Centro Cultural do Banco do Brasil conferir o trabalho de alguns anjos incansáveis - para outros apenas fotógrafos -, que se propuseram a capturar um instante de felicidade em uma imagem. O resultado não poderia ter sido mais... feliz.

(Martine Frank/Magnun, 1996, Tulku Kentrol Lodro Rabsel com seu tutor Lhagyel, no Mosteiro de Shechen, Nepal)

Com o título “Instantâneos da Felicidade”, a mostra que reúne 50 fotografias de momentos felizes - que integram a coleção da Maison Européenne de la Photographie (MEP), de Paris - saiu do CCBB, no de Janeiro, e partiu direto, sem escalas, para o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, onde ficou até janeiro deste ano.

(Édouard Boubat/Rapho, 1989, Cerejeira Japonesa)

Para onde ela foi depois de ter feito de Curitiba um lugar mais feliz de se viver, eu não sei - vale a busca -, mas ainda sobre o tema, andei lendo recentemente algumas matérias sobre o que os entendidos do assunto chamam de "Psicologia Positiva" - que seria um novo ramo da psicologia que se propõe a investigar variantes, possibilidades e mecanismos para as pessoas se tornarem mais felizes - e fiquei surpresa com o que vi.

Jean-philippe Charbonnier/Eyedea, 1979, O Segredo, Eglantine e Laurence, Paris)

Segundo os especialistas, sentimentos de prazer e desprazer são relativamente independentes - o que significa dizer que a ausência de sofrimento, de problemas, não garante uma vida feliz a ninguém! -, a felicidade não é para todo mundo - mas apenas para aqueles dispostos a trabalhar por ela -, e o trabalho para o aumento da felicidade tem suas limitações.

Pesquisas nessa área indicam que os "determinantes" da felicidade podem ser definidos em: fatores genéticos (50%), circunstâncias (10%) e atividade intencional (40%), que seria a nossa "margem de manobra", representada pelas escolhas que fazemos em nossas vidas e pela forma como pensamos.

[A idéia é que ainda que você seja geneticamente inviável e circunstancialmente fodido, ainda teria 40% de chances de ser feliz na vida. Resumindo, é isso.]

A intenção é até boa, mas considerando que não gosto nada de matemática, muito menos de definições cartesianas para valores tão subjetivos como esse, fica aqui o meu protesto quanto aos tais 40% de boa-vontade do sujeito, até que me apresentem uma planilha de cálculo informando, por exemplo, quantos Kwh de energia eu preciso produzir com o meu "trabalho" para atingir essa meta que me cabe... pensou a mesma coisa que eu (vide o post "Fuck the Pig")?!!

(Henri Cartier-Bresson/Magnum, 1969, Boulevard Diderot, Paris)

Eu escolho acreditar no ser humano. Pronto. Está decidido. Eu acredito no seu desejo. Na sua fé.

E entre os números e as imagens, fico com o cachorrinho aqui de cima: há que se ter olhos para ver, porque a felicidade está por toda parte...

sábado, 13 de setembro de 2008

A Arte de Ser







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Paulo Pasta, Sem Título , 2005, óleo sobre tela 220 x 190 cm, Reprodução fotográfica autoria desconhecida
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Este final de semana voltei ao Centro Cultural do Banco do Brasil para rever Paulo Pasta, para rever Clarice Lispector. Quem me conhece sabe que quando gosto muito - não importa o que digam os outros - repito, repito, de novo e de novo. Ouço a mesma música dez vezes, uso os mesmos brincos há anos, leio e releio o mesmo livro, de inúmeras formas diferentes.

E desta vez não poderia ser diferente.

As exposições de Paulo Pasta e Clarice Lispector, apesar de serem absolutamente distintas, diferentes, estranhas uma a outra, falam de uma verdade que é a mesma. Nos convidam a um mergulho daqueles de perder o fôlego. Vale à pena conferir...

"Colocar-se presente e na tela de Paulo Pasta, aceitar o tempo demorado necessário à sua percepção, compactuar com sua visibilidade duvidosa por trás da cor intensa, significa estabelecer justamente uma vontade de comer, referendar um campo de discurso em que uma troca seja possível. Estabelecer em valor, enfim, assim que seja, tautologicamente, o valor de se ter um valor. Parece que afinal, mesmo que nada mais possa ser dito, saibamos do que estamos".
(Lorenzo Mammi in Paulo Pasta. São Paulo: Cosac Naify, 2006)
.
"Para essa pintura, a história não é aquilo que nos livra do presente, acenando com promessas de uma vida melhor. Ela é a potencialização de nossas circunstâncias. O presente não é entrave. Na sua espessura - desde que saiba vê-la - residem as nossas possibilidades, e não as nossas limitações. Para Paulo Pasta, a arte continua a ser um fazer diferenciado e positivo. No entanto, por ora cessam as utopias, as formas fortes. O presente ensina mais do que as antecipações do futuro".
(Rodrigo Neves in Paulo Pasta. São Paulo: EDUSP, 1997)


"Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro". (Clarice Lispector)

"Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei. Pergunte, sem querer a resposta, como estou perguntando. Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento." (Clarice Lispector)

Centro Cultural do Banco do Brasil
Paulo Pasta, 12 de agosto a 21 de setembro de 2008.
Clarice Lispector, Exposição "A Hora da Estrela", 19 de agosto a 28 de setembro de 2008.

A Arte de Ser







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Paulo Pasta, Sem Título , 2005, óleo sobre tela 220 x 190 cm, Reprodução fotográfica autoria desconhecida
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Este final de semana voltei ao Centro Cultural do Banco do Brasil para rever Paulo Pasta, para rever Clarice Lispector. Quem me conhece sabe que quando gosto muito - não importa o que digam os outros - repito, repito, de novo e de novo. Ouço a mesma música dez vezes, uso os mesmos brincos há anos, leio e releio o mesmo livro, de inúmeras formas diferentes.

E desta vez não poderia ser diferente.

As exposições de Paulo Pasta e Clarice Lispector, apesar de serem absolutamente distintas, diferentes, estranhas uma a outra, falam de uma verdade que é a mesma. Nos convidam a um mergulho daqueles de perder o fôlego. Vale à pena conferir...

"Colocar-se presente e na tela de Paulo Pasta, aceitar o tempo demorado necessário à sua percepção, compactuar com sua visibilidade duvidosa por trás da cor intensa, significa estabelecer justamente uma vontade de comer, referendar um campo de discurso em que uma troca seja possível. Estabelecer em valor, enfim, assim que seja, tautologicamente, o valor de se ter um valor. Parece que afinal, mesmo que nada mais possa ser dito, saibamos do que estamos".
(Lorenzo Mammi in Paulo Pasta. São Paulo: Cosac Naify, 2006)
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"Para essa pintura, a história não é aquilo que nos livra do presente, acenando com promessas de uma vida melhor. Ela é a potencialização de nossas circunstâncias. O presente não é entrave. Na sua espessura - desde que saiba vê-la - residem as nossas possibilidades, e não as nossas limitações. Para Paulo Pasta, a arte continua a ser um fazer diferenciado e positivo. No entanto, por ora cessam as utopias, as formas fortes. O presente ensina mais do que as antecipações do futuro".
(Rodrigo Neves in Paulo Pasta. São Paulo: EDUSP, 1997)


"Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro". (Clarice Lispector)

"Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei. Pergunte, sem querer a resposta, como estou perguntando. Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento." (Clarice Lispector)

Centro Cultural do Banco do Brasil
Paulo Pasta, 12 de agosto a 21 de setembro de 2008.
Clarice Lispector, Exposição "A Hora da Estrela", 19 de agosto a 28 de setembro de 2008.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Êxtase

Êxtase: s. m. 1. Psicol. Estado de alma em que os sentidos se desprendem das coisas materiais, absorvendo-se no enlevo e contemplação interior. 2. No culto grego de Dioniso, estado de inspiração e entusiasmo religioso.

"Somos todos iguais perante o mal e o bem, por favor não me perguntem o que é o bem e o que é o mal, sabíamo-lo de cada vez que tivemos de agir no tempo em que a cegueira era uma excepção, o certo e o errado são apenas modos diferentes de entender a nossa relação com os outros, não a que temos com nós próprios, nessa não há que fiar, perdoem-me a prelecção moralística, é que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos, não sou rainha, não, sou simplesmente a que nasceu para ver o horror, vocês sentem-no, eu sinto-o e vejo-o, agora ponto final na dissertação (...) o médico só disse, Se eu voltar a ter olhos, olharei verdadeiramente os olhos dos outros, como se estivesse a ver-lhes a alma, A alma, perguntou o velho da venda preta, Ou o espírito, o nome pouco importa (...) Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

(José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira, 1995, p. 262)

Êxtase

Êxtase: s. m. 1. Psicol. Estado de alma em que os sentidos se desprendem das coisas materiais, absorvendo-se no enlevo e contemplação interior. 2. No culto grego de Dioniso, estado de inspiração e entusiasmo religioso.

"Somos todos iguais perante o mal e o bem, por favor não me perguntem o que é o bem e o que é o mal, sabíamo-lo de cada vez que tivemos de agir no tempo em que a cegueira era uma excepção, o certo e o errado são apenas modos diferentes de entender a nossa relação com os outros, não a que temos com nós próprios, nessa não há que fiar, perdoem-me a prelecção moralística, é que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos, não sou rainha, não, sou simplesmente a que nasceu para ver o horror, vocês sentem-no, eu sinto-o e vejo-o, agora ponto final na dissertação (...) o médico só disse, Se eu voltar a ter olhos, olharei verdadeiramente os olhos dos outros, como se estivesse a ver-lhes a alma, A alma, perguntou o velho da venda preta, Ou o espírito, o nome pouco importa (...) Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

(José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira, 1995, p. 262)

O Sol da Meia-Noite

( Port Lockroy, península antártica. Montanha iluminada pelo sol da meia-noite.)

O dia amanheceu...
Que bom, meu querido, que bom... Estamos acordados.
É assim que costuma ser mesmo... pelo menos por aqui em nossa terra.
O dia passa sem pressa e sua luz nos revela todas as coisas em suas justas medidas.
Teremos muito a fazer neste dia.
O dever nos chama e devemos estar com as idéias no lugar.
Muitas idéias na cabeça. Cada uma em seu lugar.
A ordem é a ordem do dia.
Sem ela o que seria de nós?
O caos...
E caos é tudo o que não queremos aqui em nossa terra...
Ainda temos muito a fazer...
Ao cair da tarde, o sol bonito lentamente se esconde atrás daquela montanha.
Contemplo o espetáculo, sozinha, com a alegria daqueles que sabem que amanhã o sol bonito estará de volta...
Se deve ir agora é porque precisa descansar tanto quanto eu...
Mas eu não vou embora. Vou ficar aqui.
Já não posso fazer muita coisa hoje e já não me importo...
Mentira. Me importo sim, mas me conformo...
Amanhã é um novo dia.
Agora é outra coisa.
A noite chega, a luz é outra, e o olhar agora nos revela todas as coisas em suas largas medidas.
Suas desmedidas. Sem medidas.
Não temos nada a fazer nesta noite. Apenas ser.
Convido-o para dançar e tudo o que precisamos é música.
Mas se não há música, ainda podemos dançar sem ela.
Ou jogamos biriba.
Ou dormimos juntinhos.
Ou qualquer outra coisa.
À noite vivemos fora da ordem.
Fora da norma. Fora do certo. Fora do centro.
Fora do centro da ordem. Justo no meio de nós.
É o caos.
Então o caos é a ordem da noite?
É a desordem do homem? Ou sua própria ordem?
Silêncio. Não respondo.
Se me pergunto é porque o dia já chegou novamente.
Que bom, meu querido, que bom... Estamos acordados.
É assim que costuma ser mesmo... pelo menos aqui em nossa terra.
Ouvi falar de um lugar onde o dia não termina nunca...
O sol não se põe e, apesar disso, disseram que é bem frio por lá...
Vai entender...
Como deve fazer falta uma boa noite de sono...
A propósito... sabe que dia é hoje?
Hoje é dia 12. Dia de cineminha.
Meirelles me espera com o seu olho azul.
Eu e meu olho azul profundo.
Nos vemos lá.

O Sol da Meia-Noite

( Port Lockroy, península antártica. Montanha iluminada pelo sol da meia-noite.)

O dia amanheceu...
Que bom, meu querido, que bom... Estamos acordados.
É assim que costuma ser mesmo... pelo menos por aqui em nossa terra.
O dia passa sem pressa e sua luz nos revela todas as coisas em suas justas medidas.
Teremos muito a fazer neste dia.
O dever nos chama e devemos estar com as idéias no lugar.
Muitas idéias na cabeça. Cada uma em seu lugar.
A ordem é a ordem do dia.
Sem ela o que seria de nós?
O caos...
E caos é tudo o que não queremos aqui em nossa terra...
Ainda temos muito a fazer...
Ao cair da tarde, o sol bonito lentamente se esconde atrás daquela montanha.
Contemplo o espetáculo, sozinha, com a alegria daqueles que sabem que amanhã o sol bonito estará de volta...
Se deve ir agora é porque precisa descansar tanto quanto eu...
Mas eu não vou embora. Vou ficar aqui.
Já não posso fazer muita coisa hoje e já não me importo...
Mentira. Me importo sim, mas me conformo...
Amanhã é um novo dia.
Agora é outra coisa.
A noite chega, a luz é outra, e o olhar agora nos revela todas as coisas em suas largas medidas.
Suas desmedidas. Sem medidas.
Não temos nada a fazer nesta noite. Apenas ser.
Convido-o para dançar e tudo o que precisamos é música.
Mas se não há música, ainda podemos dançar sem ela.
Ou jogamos biriba.
Ou dormimos juntinhos.
Ou qualquer outra coisa.
À noite vivemos fora da ordem.
Fora da norma. Fora do certo. Fora do centro.
Fora do centro da ordem. Justo no meio de nós.
É o caos.
Então o caos é a ordem da noite?
É a desordem do homem? Ou sua própria ordem?
Silêncio. Não respondo.
Se me pergunto é porque o dia já chegou novamente.
Que bom, meu querido, que bom... Estamos acordados.
É assim que costuma ser mesmo... pelo menos aqui em nossa terra.
Ouvi falar de um lugar onde o dia não termina nunca...
O sol não se põe e, apesar disso, disseram que é bem frio por lá...
Vai entender...
Como deve fazer falta uma boa noite de sono...
A propósito... sabe que dia é hoje?
Hoje é dia 12. Dia de cineminha.
Meirelles me espera com o seu olho azul.
Eu e meu olho azul profundo.
Nos vemos lá.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Além do Que Se Vê

Moça, olha só o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
Que a estrada vai além do que se vê
.
Sei que a tua solidão me dói
E que é difícil ser feliz
Mais do que somos todos nós
Você supõe o céu...
Sei que o vento que entortou a flor
Passou também por nosso lar
E foi você quem desviou
Com golpes de pincel
.
Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
Deixa eu ver a moça
Toma o teu, voa mais
Que o bloco da família vai atrás
.
Põe mais um na mesa de jantar
Porque hoje eu vou "praí" te ver
E tira o som dessa TV
Pra gente conversar
Diz pro bamba usar o violão
Pede pro Tico me esperar
E avisa que eu só vou chegar
No último vagão
.
É bom te ver sorrir
Deixa vir à moça
Que eu também vou atrás
E a banda diz: assim é que se faz!
.
(Los Hermanos, Além do que se vê)

Além do Que Se Vê

Moça, olha só o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
Que a estrada vai além do que se vê
.
Sei que a tua solidão me dói
E que é difícil ser feliz
Mais do que somos todos nós
Você supõe o céu...
Sei que o vento que entortou a flor
Passou também por nosso lar
E foi você quem desviou
Com golpes de pincel
.
Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
Deixa eu ver a moça
Toma o teu, voa mais
Que o bloco da família vai atrás
.
Põe mais um na mesa de jantar
Porque hoje eu vou "praí" te ver
E tira o som dessa TV
Pra gente conversar
Diz pro bamba usar o violão
Pede pro Tico me esperar
E avisa que eu só vou chegar
No último vagão
.
É bom te ver sorrir
Deixa vir à moça
Que eu também vou atrás
E a banda diz: assim é que se faz!
.
(Los Hermanos, Além do que se vê)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

As Time Goes By...

Meu pai me levou às lágrimas com esse e-mail no qual relata como foi para ele a última sessão do Cine Paissandu, neste final de semana. Divido com vocês esse lamento...

"Amigos,
.
É com tristeza que assistimos o fechamento do CINE PAISSANDU. A sala da Cinemateca do MAM e o PAISSANDU são referências de todos os cinéfilos dessa cidade. Por favor, se alguém tiver conhecimento que possa ajudar, usem para SALVAR O PAISSANDU. Foi tudo muito rápido e soube através de msg da Mirella. No sábado não consegui nada: TUDO LOTADO. No domingo acordei cedo pra comprar ingressos e assisti duas sessões com o jogo do Maracanã entre elas - e fomos garfados... o Framboesa voltava de impedimento na hora do lançamento.
.
A projeção de Casablanca estava péssima e ninguém se importou. O projecionista trocou os rolos e a platéia protestou. Resultado: ele colocou o rolo fora de ordem, mas Ingrid Bergman entrou soberana no Rick's Bar e Sam tocou pela última vez As Time Goes By. O silêncio era comovente, emocionante. Ao final da projeção os aplausos ecoaram na sala. Senhores(as), jovens, adolescentes - a quase totalidade da platéia nem era nascida quando o filme foi realizado -sucumbiram à força de Casablanca.
.
O ingresso guardarei para sempre... Afinal, o Paissandu faz parte da minha história. Coincidência: o fotografo do JB registrou o amigo que vos fala na última imagem da última sessão. Abs".

As Time Goes By...

Meu pai me levou às lágrimas com esse e-mail no qual relata como foi para ele a última sessão do Cine Paissandu, neste final de semana. Divido com vocês esse lamento...

"Amigos,
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É com tristeza que assistimos o fechamento do CINE PAISSANDU. A sala da Cinemateca do MAM e o PAISSANDU são referências de todos os cinéfilos dessa cidade. Por favor, se alguém tiver conhecimento que possa ajudar, usem para SALVAR O PAISSANDU. Foi tudo muito rápido e soube através de msg da Mirella. No sábado não consegui nada: TUDO LOTADO. No domingo acordei cedo pra comprar ingressos e assisti duas sessões com o jogo do Maracanã entre elas - e fomos garfados... o Framboesa voltava de impedimento na hora do lançamento.
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A projeção de Casablanca estava péssima e ninguém se importou. O projecionista trocou os rolos e a platéia protestou. Resultado: ele colocou o rolo fora de ordem, mas Ingrid Bergman entrou soberana no Rick's Bar e Sam tocou pela última vez As Time Goes By. O silêncio era comovente, emocionante. Ao final da projeção os aplausos ecoaram na sala. Senhores(as), jovens, adolescentes - a quase totalidade da platéia nem era nascida quando o filme foi realizado -sucumbiram à força de Casablanca.
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O ingresso guardarei para sempre... Afinal, o Paissandu faz parte da minha história. Coincidência: o fotografo do JB registrou o amigo que vos fala na última imagem da última sessão. Abs".

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Um Bravo

Eu preciso dizer que estou esperando ansiosamente a estréia do filme Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness), do Fernando Meirelles, no dia 12 de setembro?
Não, né?! Não preciso dizer isso. Não preciso mesmo. Vocês já perceberam.

Pois é.

Estou eu lá no vôo da TAM voltando de Foz para o Rio e, enquanto rabiscava umas idéias no papel – como me rendeu coisas boas esse vôo –, olho de relance para o bolso da poltrona da frente e vejo a foto do próprio Fernando Meirelles na capa da revista da TAM, com o título “Rodando pelo mundo, o diretor de Ensaio Sobre a Cegueira abre caminhos para o cinema nacional”.

Nem pensei duas vezes. Saquei a revista da poltrona, fui direto à página 116, e me deparei com o seguinte título: “Fernando Meirelles, Ensaio Sobre um Viajante Fiel”.

[Muito bom isso...]

Em poucos minutos já havia terminado a leitura da matéria e fiquei lá "viajando"... absolutamente encantada com a simplicidade, a humanidade e a genialidade deste homem que escolheu, da obra de Saramago, o mais intenso dos livros, o mais perturbador, o mais fascinante, e belo - um dos livros da minha vida - para dar forma e movimento.

Quem é esse homem? Olha isso:

“(...) Escolhido como filme de abertura do último festival de Cannes, Blindness (título em inglês) dividiu a crítica internacional. A revista Variety decretou: ‘O filme que não deveria ser feito’. No entanto, Saramago, que já se havia recusado a vender os direitos da adaptação a Meirelles há dez anos, aprovou. Vazou no You Tube o momento em que revela, após assistir o filme em uma sessão privada em Lisboa, estar tão feliz quanto quando escreveu o livro.
Elogios como esse parecem desconcertar Meirelles. Ele diz não suportar a expectativa que as pessoas têm sobre seu trabalho. ‘Parece mais uma ameaça quando alguém diz: ‘Estou esperando muito seu filme, imagino que maravilha deve ser’.’ Também odeia cerimônias de premiação, mesmo com Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel somando oito indicações para o Oscar. ‘Sempre que isso acontece, eu fico torcendo para não ganhar. Se ganhar, terei que subir lá e falar. É a pior situação que existe.’
Essas pequenas inseguranças não combinam muito com a imagem do cineasta, que parece ter sua carreira sob controle".

[Hein?!! Esse jornalista bebeu??? Tá louco??? Quer dizer então que um cineasta que tem "sua carreira sob controle" não pode ter medo?! Eu hein... Pelo visto, quem vai ficar escrevendo na revista da TAM por muito tempo ainda é ele...]

"(...) ‘Luto para não ser workaholic, mas trabalho bastante porque gosto. Esse é o meu problema [atenção!]: eu fico entusiasmado.’
O que não o deixa nem um pouco animado é a idéia de trabalhar para um grande estúdio. Convites não faltam. Entre as produções para as quais deu as costas está Cassino Royale (2006), primeiro James Bond com Daniel Craig no papel do espião. ‘Quanto mais dinheiro envolvido, mais o produtor tem que garantir que vai dar retorno, mais você precisa fazer a história abrangente, mais será necessário usar clichês. Não sei trabalhar assim’, dá de ombros.
Sua próxima incursão no cinema, com filmagens marcadas para o fim de 2009, foge um pouco das histórias com engajamento social que marcam a sua carreira. Trata-se de uma comédia romântica, que Meirelles quer chamar de Vinte e Poucos, baseada em Trabalhos de Amor Perdidos, adaptação de Jorge Furtado (O Homem que Copiava), sobre a peça homônima de Shakespeare.
E o Intolerância 2, projeto passado em cinco continentes, que ele anuncia desde que lançou Cidade de Deus? ‘Está totalmente na prateleira. Uns produtores franceses me convidaram para algo parecido, então posso até fazer um bem bolado’, revela. Depois confessa: ‘Na verdade, parei porque deu preguiça. Tem que viajar tanto. Penso nesse filme e já vejo as mil e poucas horas de vôo”.

Brilhante! Acho que o livro escolheu o diretor certo para levá-lo às telas...

Parabéns pela sua coragem, pela sua bravura, Meirelles! Parabéns!
Dia doze estarei lá... desarmada... esperando apenas não desapontá-lo durante a exibição de seu filme... Fazendo o silêncio necessário, mantendo toda a atenção devida, e desejando muitíssimo apenas conhecer essa linda história que quer nos contar.

Fonte: Revista TAM, nº 08, agosto 2008, matéria de capa Fernando Meirelles, Ensaio Sobre um Viajante Fiel, por Alex Xavier.

Um Bravo

Eu preciso dizer que estou esperando ansiosamente a estréia do filme Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness), do Fernando Meirelles, no dia 12 de setembro?
Não, né?! Não preciso dizer isso. Não preciso mesmo. Vocês já perceberam.

Pois é.

Estou eu lá no vôo da TAM voltando de Foz para o Rio e, enquanto rabiscava umas idéias no papel – como me rendeu coisas boas esse vôo –, olho de relance para o bolso da poltrona da frente e vejo a foto do próprio Fernando Meirelles na capa da revista da TAM, com o título “Rodando pelo mundo, o diretor de Ensaio Sobre a Cegueira abre caminhos para o cinema nacional”.

Nem pensei duas vezes. Saquei a revista da poltrona, fui direto à página 116, e me deparei com o seguinte título: “Fernando Meirelles, Ensaio Sobre um Viajante Fiel”.

[Muito bom isso...]

Em poucos minutos já havia terminado a leitura da matéria e fiquei lá "viajando"... absolutamente encantada com a simplicidade, a humanidade e a genialidade deste homem que escolheu, da obra de Saramago, o mais intenso dos livros, o mais perturbador, o mais fascinante, e belo - um dos livros da minha vida - para dar forma e movimento.

Quem é esse homem? Olha isso:

“(...) Escolhido como filme de abertura do último festival de Cannes, Blindness (título em inglês) dividiu a crítica internacional. A revista Variety decretou: ‘O filme que não deveria ser feito’. No entanto, Saramago, que já se havia recusado a vender os direitos da adaptação a Meirelles há dez anos, aprovou. Vazou no You Tube o momento em que revela, após assistir o filme em uma sessão privada em Lisboa, estar tão feliz quanto quando escreveu o livro.
Elogios como esse parecem desconcertar Meirelles. Ele diz não suportar a expectativa que as pessoas têm sobre seu trabalho. ‘Parece mais uma ameaça quando alguém diz: ‘Estou esperando muito seu filme, imagino que maravilha deve ser’.’ Também odeia cerimônias de premiação, mesmo com Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel somando oito indicações para o Oscar. ‘Sempre que isso acontece, eu fico torcendo para não ganhar. Se ganhar, terei que subir lá e falar. É a pior situação que existe.’
Essas pequenas inseguranças não combinam muito com a imagem do cineasta, que parece ter sua carreira sob controle".

[Hein?!! Esse jornalista bebeu??? Tá louco??? Quer dizer então que um cineasta que tem "sua carreira sob controle" não pode ter medo?! Eu hein... Pelo visto, quem vai ficar escrevendo na revista da TAM por muito tempo ainda é ele...]

"(...) ‘Luto para não ser workaholic, mas trabalho bastante porque gosto. Esse é o meu problema [atenção!]: eu fico entusiasmado.’
O que não o deixa nem um pouco animado é a idéia de trabalhar para um grande estúdio. Convites não faltam. Entre as produções para as quais deu as costas está Cassino Royale (2006), primeiro James Bond com Daniel Craig no papel do espião. ‘Quanto mais dinheiro envolvido, mais o produtor tem que garantir que vai dar retorno, mais você precisa fazer a história abrangente, mais será necessário usar clichês. Não sei trabalhar assim’, dá de ombros.
Sua próxima incursão no cinema, com filmagens marcadas para o fim de 2009, foge um pouco das histórias com engajamento social que marcam a sua carreira. Trata-se de uma comédia romântica, que Meirelles quer chamar de Vinte e Poucos, baseada em Trabalhos de Amor Perdidos, adaptação de Jorge Furtado (O Homem que Copiava), sobre a peça homônima de Shakespeare.
E o Intolerância 2, projeto passado em cinco continentes, que ele anuncia desde que lançou Cidade de Deus? ‘Está totalmente na prateleira. Uns produtores franceses me convidaram para algo parecido, então posso até fazer um bem bolado’, revela. Depois confessa: ‘Na verdade, parei porque deu preguiça. Tem que viajar tanto. Penso nesse filme e já vejo as mil e poucas horas de vôo”.

Brilhante! Acho que o livro escolheu o diretor certo para levá-lo às telas...

Parabéns pela sua coragem, pela sua bravura, Meirelles! Parabéns!
Dia doze estarei lá... desarmada... esperando apenas não desapontá-lo durante a exibição de seu filme... Fazendo o silêncio necessário, mantendo toda a atenção devida, e desejando muitíssimo apenas conhecer essa linda história que quer nos contar.

Fonte: Revista TAM, nº 08, agosto 2008, matéria de capa Fernando Meirelles, Ensaio Sobre um Viajante Fiel, por Alex Xavier.