sexta-feira, 30 de julho de 2010

Marca

(Ingrid Bergman na cena final de "Casablanca", de Michael Curtiz, EUA, 1942) 

O nome dela é Ilsa.

Marca

(Ingrid Bergman na cena final de "Casablanca", de Michael Curtiz, EUA, 1942) 

O nome dela é Ilsa.

Tentativa nº 1.459.332.763


Vamos lá. Do início. No começo eram as trevas.

Tentativa nº 1.459.332.763


Vamos lá. Do início. No começo eram as trevas.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Está

(Fotografia de Marisa Cardoso, Lisboa, 2008)

O que está acontecendo aqui? - Em suma, não sei.

Está

(Fotografia de Marisa Cardoso, Lisboa, 2008)

O que está acontecendo aqui? - Em suma, não sei.

Uma escolha

(Foto: Divulgação. São Paulo, 2008)

Uma escolha

(Foto: Divulgação. São Paulo, 2008)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Dedicatória de Amor

("Conversa com o Vizinho" de José Malhoa, óleo sobre tela, Portugal, 1932)

Naquela mesma matéria sobre a qual falei ontem, Mauro Ventura - logo quem - abriu espaço para falar sobre o filme "José & Pilar", do diretor português Miguel Gonçalves Mendes em co-produção com a O2 de Fernando Meirelles - diretor do filme "Ensaio sobre a Cegueira", baseado no livro homônimo de Saramago -,  que tem estréia prevista em 16 de novembro próximo, dia do aniversário do escritor - e, por uma  feliz coincidência, o meu também. 

Segundo Mauro Ventura, "no dia em que viu a primeira versão de 'José & Pilar', o escritor José Saramago virou-se para a mulher ao fim da sessão e disse:
- Pilar, isso é uma grande dedicatória de amor à tua pessoa.
Ela devolveu:
- E a minha vida também é uma grande dedicatória de amor".

(" 'José & Pilar', uma dedicatória de amor", artigo de Mauro Ventura publicado no Segundo Caderno do  jornal O Globo em 25.jul.10)

Dedicatória de Amor

("Conversa com o Vizinho" de José Malhoa, óleo sobre tela, Portugal, 1932)

Naquela mesma matéria sobre a qual falei ontem, Mauro Ventura - logo quem - abriu espaço para falar sobre o filme "José & Pilar", do diretor português Miguel Gonçalves Mendes em co-produção com a O2 de Fernando Meirelles - diretor do filme "Ensaio sobre a Cegueira", baseado no livro homônimo de Saramago -,  que tem estréia prevista em 16 de novembro próximo, dia do aniversário do escritor - e, por uma  feliz coincidência, o meu também. 

Segundo Mauro Ventura, "no dia em que viu a primeira versão de 'José & Pilar', o escritor José Saramago virou-se para a mulher ao fim da sessão e disse:
- Pilar, isso é uma grande dedicatória de amor à tua pessoa.
Ela devolveu:
- E a minha vida também é uma grande dedicatória de amor".

(" 'José & Pilar', uma dedicatória de amor", artigo de Mauro Ventura publicado no Segundo Caderno do  jornal O Globo em 25.jul.10)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um pouco mais

(Pilar del Río, Lanzarote, Espanha, 2009)

Pilar Del Río me levou às lagrimas em sua entrevista à jornalista Sandra Cohen, publicada ontem no jornal O Globo, um pouco mais de um mês após a partida de Saramago, onde falou sobre a vida que segue, a vida que fica, e sobre todo o seu amor que, definitivamente, não o deixa morrer:

"(...) Como foram os últimos momentos com ele? Saramago falava da morte, houve um ritual de despedida?
PILAR: Não se falava da morte, porque desde sempre soubemos, como todos, que esse é nosso destino. Não se falava nem se evitava o tema, ele simplesmente estava, com naturalidade, sem dramaticidade. Não houve ritual de despedida, como não havia ritual de vida: houve cumplicidade ao longo de 24 anos de vida em comum. Ou talvez houvesse, sim, um ritual: viver cada dia como o primeiro e o último. Com a intensidade e a alegria de escolher como singular e destacada toda ocasião.

Como tem sido sua rotina sem ele? Em que momentos sente mais a sua falta?
PILAR: Não há rotina, cada dia tem o seu afã e são muitas coisas a fazer. Saramago está tão presente o tempo todo e em toda a casa, nas conversas, nos quadros que apreciava, na luz que acendia, no relógio que portava, nos livros que estava lendo e nos já lidos, na música que continua soando e que parece dizer que Saramago está aqui, nesta casa, como está nos corações de todos os que o amávamos, que somos uma legião. E está, porque as idéias não se perdem, tampouco os sentimentos que nos fazem mais humanos e melhores. Na ausência de Saramago há muitas vivências.
(...)
Saramago tinha casa em Portugal, viverei ali a maior parte do tempo. Dei entrada nos trâmites para me nacionalizar portuguesa: quero pertencer ao país que produziu um homem tão bom, tão sábio, tão simples, tão exemplar. Quem sabe assim um pouco disso passa para mim? (...)"

(Entrevista de Pilar Del Rio a Sandra Cohen, publicada em 25.jul.10, no Segundo Caderno do jornal O Globo)

Um pouco mais

(Pilar del Río, Lanzarote, Espanha, 2009)

Pilar Del Río me levou às lagrimas em sua entrevista à jornalista Sandra Cohen, publicada ontem no jornal O Globo, um pouco mais de um mês após a partida de Saramago, onde falou sobre a vida que segue, a vida que fica, e sobre todo o seu amor que, definitivamente, não o deixa morrer:

"(...) Como foram os últimos momentos com ele? Saramago falava da morte, houve um ritual de despedida?
PILAR: Não se falava da morte, porque desde sempre soubemos, como todos, que esse é nosso destino. Não se falava nem se evitava o tema, ele simplesmente estava, com naturalidade, sem dramaticidade. Não houve ritual de despedida, como não havia ritual de vida: houve cumplicidade ao longo de 24 anos de vida em comum. Ou talvez houvesse, sim, um ritual: viver cada dia como o primeiro e o último. Com a intensidade e a alegria de escolher como singular e destacada toda ocasião.

Como tem sido sua rotina sem ele? Em que momentos sente mais a sua falta?
PILAR: Não há rotina, cada dia tem o seu afã e são muitas coisas a fazer. Saramago está tão presente o tempo todo e em toda a casa, nas conversas, nos quadros que apreciava, na luz que acendia, no relógio que portava, nos livros que estava lendo e nos já lidos, na música que continua soando e que parece dizer que Saramago está aqui, nesta casa, como está nos corações de todos os que o amávamos, que somos uma legião. E está, porque as idéias não se perdem, tampouco os sentimentos que nos fazem mais humanos e melhores. Na ausência de Saramago há muitas vivências.
(...)
Saramago tinha casa em Portugal, viverei ali a maior parte do tempo. Dei entrada nos trâmites para me nacionalizar portuguesa: quero pertencer ao país que produziu um homem tão bom, tão sábio, tão simples, tão exemplar. Quem sabe assim um pouco disso passa para mim? (...)"

(Entrevista de Pilar Del Rio a Sandra Cohen, publicada em 25.jul.10, no Segundo Caderno do jornal O Globo)

sábado, 24 de julho de 2010

Juntos

("On the platform, reading" por Moriza, Estados Unidos, 2006)

Ela e ele.

Juntos

("On the platform, reading" por Moriza, Estados Unidos, 2006)

Ela e ele.

Para sempre


("Paisagem de Amor" de Fernanda Abreu, Marcelo Lobatto e Fausto Fawcett, no álbum Entidade Urbana, EMI, 2000)

Para sempre


("Paisagem de Amor" de Fernanda Abreu, Marcelo Lobatto e Fausto Fawcett, no álbum Entidade Urbana, EMI, 2000)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Uma questão de tempo

(Fotografia de Priscila Lopes, São Paulo, 2009)

Um crime. Uma pena. Uma defesa possível.

- Acho que só de me dei mal porque não fui de trem... Naquele dia não fui de trem. Os caras me pegaram no ponto de ônibus.
- É?

[Silêncio]

- Na verdade não... Acho que se não fosse naquele dia, perder depois seria uma questão de tempo.
- Pode ser.

Uma questão de tempo

(Fotografia de Priscila Lopes, São Paulo, 2009)

Um crime. Uma pena. Uma defesa possível.

- Acho que só de me dei mal porque não fui de trem... Naquele dia não fui de trem. Os caras me pegaram no ponto de ônibus.
- É?

[Silêncio]

- Na verdade não... Acho que se não fosse naquele dia, perder depois seria uma questão de tempo.
- Pode ser.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Começo

(Laura Neiva "À Deriva" no filme de Heitor Dhalia, Búzios, Brasil, 2009)

"Saber que não se escreve para o outro, saber que as coisas que vou escrever não me farão nunca amado por aquele que amo, saber que a escritura não compensa nada, não sublima nada, que ela está precisamente aí onde você não está - é o começo da escritura".

(Roland Barthes, "Fragmentos de um Discurso Amoroso", Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994, p. 93)

Começo

(Laura Neiva "À Deriva" no filme de Heitor Dhalia, Búzios, Brasil, 2009)

"Saber que não se escreve para o outro, saber que as coisas que vou escrever não me farão nunca amado por aquele que amo, saber que a escritura não compensa nada, não sublima nada, que ela está precisamente aí onde você não está - é o começo da escritura".

(Roland Barthes, "Fragmentos de um Discurso Amoroso", Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994, p. 93)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Lugar

(Luís Melo, Bianca Ramoneda e Márcio Vito no espetáculo "O que eu gostaria de dizer", Rio de Janeiro, 2010)

Leandra Leal tinha todo o Rio de Janeiro para passar a noite de sábado, mas escolheu passar justo por mim na fila do Teatro de Arena da Caixa Cultural. "Dá licença?" Em silêncio, cheguei para o lado, dei um sorriso e abri passagem para que a moça fosse à palestra do Jorge Furtado enquanto eu permaneceria ali, aguardando Luis Melo. Na fila. Entre nós uma coisa em comum:  o vento nos cachinhos.

"Não há melhor lugar para estar do que estar contente".

(Gonçalo M. Tavares em "O Homem ou é Tonto ou é Mulher", trecho da peça "O que eu gostaria de dizer", com Luís Melo, Bianca Ramoneda e Márcio Vito, direção de Márcio Abreu)

Lugar

(Luís Melo, Bianca Ramoneda e Márcio Vito no espetáculo "O que eu gostaria de dizer", Rio de Janeiro, 2010)

Leandra Leal tinha todo o Rio de Janeiro para passar a noite de sábado, mas escolheu passar justo por mim na fila do Teatro de Arena da Caixa Cultural. "Dá licença?" Em silêncio, cheguei para o lado, dei um sorriso e abri passagem para que a moça fosse à palestra do Jorge Furtado enquanto eu permaneceria ali, aguardando Luis Melo. Na fila. Entre nós uma coisa em comum:  o vento nos cachinhos.

"Não há melhor lugar para estar do que estar contente".

(Gonçalo M. Tavares em "O Homem ou é Tonto ou é Mulher", trecho da peça "O que eu gostaria de dizer", com Luís Melo, Bianca Ramoneda e Márcio Vito, direção de Márcio Abreu)

domingo, 18 de julho de 2010

A ele

(Fotografia da coleção Primavera/2010 da marca Dace)

Neste dia 18 de julho, os amantes da obra de José Saramago lembraram a passagem do primeiro mês da sua partida. 

Foi com muita emoção que li no site da Fundação José Saramago sobre a proposta de um grupo de leitores inspirados numa referência feita à Fernando Pessoa no livro "O Ano da Morte de Ricardo Reis" para que brindemos Saramago com uma taça de vinho "em todos os continentes do mundo", falando dele, lendo páginas de qualquer livro, "livres de preconceitos e de prisões, discutir com a liberdade que Saramago reclamava e fazê-lo de forma explícita aos dias 18 dos próximos nove meses". Adorei.

Só que da "convocatória" para passarmos "nove meses despedindo-nos de quem não nos queremos despedir" eu estou fora.

Ficarei por aqui celebrando a vida de sua obra, a força de suas idéias e o que dele tocou, mudou e ficou na minha vida, nos próximos nove meses, nos outros nove que se seguirão e nos que virão depois. E assim será até que a minha também pare - porque um dia ela pára. Se chegará ao fim eu já não sei.

E assim, foi numa roda de chorinho, esta tarde, na Praça São Salvador, com copos descartáveis e umas latinhas de cerveja, com amigos de Saramago e outros que jamais leram nenhum dos seus livros, que brindamos à nossa vida atravessada por ele. Alguns, pela primeira vez naquele instante. Naquela praça. Naquele choro.

"Abriu o caderno sobre o atril, respirou fundo, colocou a mão esquerda no braço do violoncelo, a mão direita conduziu o arco até quase roçar as cordas, e começou. De mais sabia ele que não era rostropovich, que não passava de um solista de orquestra quando o acaso de um programa assim o exigia, mas aqui, perante esta mulher, com o seu cão deitado aos pés, a esta hora da noite, rodeado de livros, de cadernos de música, de partituras, era o próprio johann sebastian bach compondo em cöthen o que mais tarde seria chamado opus mil e doze, obras elas quase tantas como foram as da criação. A passagem difícil foi transposta sem que ele se tivesse apercebido da proeza que havia cometido, mãos felizes faziam murmurar, falar, cantar, rugir o violoncelo, eis o que faltou a  rostropovich, esta sala de música, esta hora, esta mulher. Quando ele terminou, as mãos dela já não estavam frias, as suas ardiam, por isso foi que as mãos se deram às mãos e não se estranharam. Passava muito da uma hora da madrugada quando o violoncelista perguntou. Quer que chame um táxi para a levar ao hotel, e a mulher respondeu. Não, ficarei contigo, e ofereceu-lhe a boca. Entraram no quarto, despiram-se e o que estava escrito que aconteceria, aconteceu enfim, e outra vez, e outra ainda. Ele adormeceu, ela não. Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. Olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez. Saiu para a cozinha, acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira, ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contato dos dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta da morte, essa que só a morte podia destruir. Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu".

(José Saramago, "As Intermitências da Morte". São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 206/207)     

A ele

(Fotografia da coleção Primavera/2010 da marca Dace)

Neste dia 18 de julho, os amantes da obra de José Saramago lembraram a passagem do primeiro mês da sua partida. 

Foi com muita emoção que li no site da Fundação José Saramago sobre a proposta de um grupo de leitores inspirados numa referência feita à Fernando Pessoa no livro "O Ano da Morte de Ricardo Reis" para que brindemos Saramago com uma taça de vinho "em todos os continentes do mundo", falando dele, lendo páginas de qualquer livro, "livres de preconceitos e de prisões, discutir com a liberdade que Saramago reclamava e fazê-lo de forma explícita aos dias 18 dos próximos nove meses". Adorei.

Só que da "convocatória" para passarmos "nove meses despedindo-nos de quem não nos queremos despedir" eu estou fora.

Ficarei por aqui celebrando a vida de sua obra, a força de suas idéias e o que dele tocou, mudou e ficou na minha vida, nos próximos nove meses, nos outros nove que se seguirão e nos que virão depois. E assim será até que a minha também pare - porque um dia ela pára. Se chegará ao fim eu já não sei.

E assim, foi numa roda de chorinho, esta tarde, na Praça São Salvador, com copos descartáveis e umas latinhas de cerveja, com amigos de Saramago e outros que jamais leram nenhum dos seus livros, que brindamos à nossa vida atravessada por ele. Alguns, pela primeira vez naquele instante. Naquela praça. Naquele choro.

"Abriu o caderno sobre o atril, respirou fundo, colocou a mão esquerda no braço do violoncelo, a mão direita conduziu o arco até quase roçar as cordas, e começou. De mais sabia ele que não era rostropovich, que não passava de um solista de orquestra quando o acaso de um programa assim o exigia, mas aqui, perante esta mulher, com o seu cão deitado aos pés, a esta hora da noite, rodeado de livros, de cadernos de música, de partituras, era o próprio johann sebastian bach compondo em cöthen o que mais tarde seria chamado opus mil e doze, obras elas quase tantas como foram as da criação. A passagem difícil foi transposta sem que ele se tivesse apercebido da proeza que havia cometido, mãos felizes faziam murmurar, falar, cantar, rugir o violoncelo, eis o que faltou a  rostropovich, esta sala de música, esta hora, esta mulher. Quando ele terminou, as mãos dela já não estavam frias, as suas ardiam, por isso foi que as mãos se deram às mãos e não se estranharam. Passava muito da uma hora da madrugada quando o violoncelista perguntou. Quer que chame um táxi para a levar ao hotel, e a mulher respondeu. Não, ficarei contigo, e ofereceu-lhe a boca. Entraram no quarto, despiram-se e o que estava escrito que aconteceria, aconteceu enfim, e outra vez, e outra ainda. Ele adormeceu, ela não. Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. Olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez. Saiu para a cozinha, acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira, ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contato dos dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta da morte, essa que só a morte podia destruir. Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu".

(José Saramago, "As Intermitências da Morte". São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 206/207)     

sábado, 17 de julho de 2010

Nau

(A "Nau" de Eduardo Srur, Espaço Rosa dos Ventos, Parque do Ibirapuera, São Paulo, 2010)

Reconhecer o não onde não está é uma virtude.
Saber fazer com ele é uma arte.

Nau

(A "Nau" de Eduardo Srur, Espaço Rosa dos Ventos, Parque do Ibirapuera, São Paulo, 2010)

Reconhecer o não onde não está é uma virtude.
Saber fazer com ele é uma arte.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Casa

("Cangote" por Céu no show Vagarosa, Triple Door, Seattle, EUA, 14.abr.10)

Casa

("Cangote" por Céu no show Vagarosa, Triple Door, Seattle, EUA, 14.abr.10)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Despedida

(In the Mood for Love, "À Flor da Pele", de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"- Deixe que olhe para você mais uma vez... uma vez mais... assim".

("A dama do cachorrinho e outros contos", A.P. Tchekhov, tradução de Boris Schnaiderman, São Paulo: Ed. 34, 2009, p. 322)

Despedida

(In the Mood for Love, "À Flor da Pele", de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"- Deixe que olhe para você mais uma vez... uma vez mais... assim".

("A dama do cachorrinho e outros contos", A.P. Tchekhov, tradução de Boris Schnaiderman, São Paulo: Ed. 34, 2009, p. 322)

domingo, 11 de julho de 2010

Tarde

(In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"Ana Sierguéievna, que estava com o vestido cinzento da predileção de Gurov, esperava-o desde a tarde anterior, estava cansada da viagem e da espera. Pálida, olhou-o sem sorrir e, mal ele entrou no quarto, ela se atirou a seu peito".

("A dama do cachorrinho e outros contos", A.P. Tchekhov, tradução de Boris Schnaiderman, São Paulo: Ed. 34, 2009, p. 331)

Tarde

(In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"Ana Sierguéievna, que estava com o vestido cinzento da predileção de Gurov, esperava-o desde a tarde anterior, estava cansada da viagem e da espera. Pálida, olhou-o sem sorrir e, mal ele entrou no quarto, ela se atirou a seu peito".

("A dama do cachorrinho e outros contos", A.P. Tchekhov, tradução de Boris Schnaiderman, São Paulo: Ed. 34, 2009, p. 331)

sábado, 10 de julho de 2010

Bon jour

(In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"Todos os dias nasce Afrodite, e para retomar no próprio Platão um equívoco que é, acredito, uma verdadeira etimologia, vou concluir esse discurso com as palavras - kalemera, bom-dia, kalimeros, bom-dia e belo desejo - da reflexão sobre o que lhes trouxe aqui quanto à relação do amor com alguma coisa que, desde sempre, chamou-se eterno amor. Que não lhes seja pesado demais pensar, se recordarem que este termo, eterno amor, é colocado por Dante, expressamente, nas portas do Inferno".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 165)

Bon jour

(In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"Todos os dias nasce Afrodite, e para retomar no próprio Platão um equívoco que é, acredito, uma verdadeira etimologia, vou concluir esse discurso com as palavras - kalemera, bom-dia, kalimeros, bom-dia e belo desejo - da reflexão sobre o que lhes trouxe aqui quanto à relação do amor com alguma coisa que, desde sempre, chamou-se eterno amor. Que não lhes seja pesado demais pensar, se recordarem que este termo, eterno amor, é colocado por Dante, expressamente, nas portas do Inferno".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 165)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Todos os dias

(Maggie Cheung no filme In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"Não acreditem que aquela que está colocada na origem desse discurso, Afrodite, seja uma deusa que sorri.
Um pré-socrático que é, creio, Demócrito, diz que ela estava lá, inteiramente só, na origem. E é mesmo nesse sentido que, pela primeira vez, aparece nos textos gregos o termo agalma. Vênus, para chamá-la por seu nome, nasce todos os dias".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 165)

Todos os dias

(Maggie Cheung no filme In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"Não acreditem que aquela que está colocada na origem desse discurso, Afrodite, seja uma deusa que sorri.
Um pré-socrático que é, creio, Demócrito, diz que ela estava lá, inteiramente só, na origem. E é mesmo nesse sentido que, pela primeira vez, aparece nos textos gregos o termo agalma. Vênus, para chamá-la por seu nome, nasce todos os dias".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 165)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Pane (para quem tem fome)

(Tony Leung Chiu Wai e Maggie Cheung no filme In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"O amor é o que faz vocês entrarem em pane, é o que os faz fazer fiasco".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 111)

Pane (para quem tem fome)

(Tony Leung Chiu Wai e Maggie Cheung no filme In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"O amor é o que faz vocês entrarem em pane, é o que os faz fazer fiasco".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 111)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

ali

(Tony Leung Chiu Wai e Maggie Cheung no filme In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"Alcibíades mostra a presença do amor, mas mostra-a apenas na medida em que Sócrates, que sabe, pode enganar-se ali, e só a acompanha enganando-se. O logro é recíproco. Ele é tão verdadeiro para Sócrates, se este é um logro e se é verdade que ele é logrado, quanto é verdadeiro para Alcibíades que ele é tomado por este logro.
Mas, qual é o logrado mais autêntico? - senão aquele que prossegue firme, e sem se deixar ir à deriva, o que lhe traça um amor que chamarei de impressionante".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 165)

ali

(Tony Leung Chiu Wai e Maggie Cheung no filme In the Mood for Love, de Wong Kar-wai , Hong Kong/França, 2000)

"Alcibíades mostra a presença do amor, mas mostra-a apenas na medida em que Sócrates, que sabe, pode enganar-se ali, e só a acompanha enganando-se. O logro é recíproco. Ele é tão verdadeiro para Sócrates, se este é um logro e se é verdade que ele é logrado, quanto é verdadeiro para Alcibíades que ele é tomado por este logro.
Mas, qual é o logrado mais autêntico? - senão aquele que prossegue firme, e sem se deixar ir à deriva, o que lhe traça um amor que chamarei de impressionante".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 165)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Brilh-a

(Fotografia de José Diniz na exposição "Do Real e Imaginário", em cartaz no Parque Lage, Rio de Janeiro, até o dia 15.ago.10) 

"A raiz de agalma não é fácil. Os autores a proximam de agavos, deste termo ambíguo que é agamai, eu admiro, mas também eu invejo, tenho ciúmes de, que vai dar agazo, suportar com dificuldade, que vai em direção a agaiomai, que quer dizer estar indignado. Os autores que estão com carência de raízes, quero dizer, de raízes que tragam com elas um sentido, o que é absolutamente contrário ao princípio da lingüistica, destacam daí gal ou gel, o gel de gelao, o gal que é o mesmo que em glene, a pupila, e em galenen, que outro dia lhes citei de passagem, o mar que brilha por estar perfeitamente liso. Em suma, uma idéia de brilho está escondida ali na raiz". 

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 145)

Brilh-a

(Fotografia de José Diniz na exposição "Do Real e Imaginário", em cartaz no Parque Lage, Rio de Janeiro, até o dia 15.ago.10) 

"A raiz de agalma não é fácil. Os autores a proximam de agavos, deste termo ambíguo que é agamai, eu admiro, mas também eu invejo, tenho ciúmes de, que vai dar agazo, suportar com dificuldade, que vai em direção a agaiomai, que quer dizer estar indignado. Os autores que estão com carência de raízes, quero dizer, de raízes que tragam com elas um sentido, o que é absolutamente contrário ao princípio da lingüistica, destacam daí gal ou gel, o gel de gelao, o gal que é o mesmo que em glene, a pupila, e em galenen, que outro dia lhes citei de passagem, o mar que brilha por estar perfeitamente liso. Em suma, uma idéia de brilho está escondida ali na raiz". 

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 145)

domingo, 4 de julho de 2010

Porr-a, Lacan

(Rue de Lille por Pierre Petit, Paris Inonde, 1910)

"E veremos como é apenas pelo outro e para o outro que Alcibíades, como todo mundo, quer fazer saber a Sócrates do seu amor".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 151)

Porr-a, Lacan

(Rue de Lille por Pierre Petit, Paris Inonde, 1910)

"E veremos como é apenas pelo outro e para o outro que Alcibíades, como todo mundo, quer fazer saber a Sócrates do seu amor".

(Jacques Lacan, "O Seminário, livro 8: a transferência". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1991, p. 151)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sob o véu


"O cuidado com o olhar é expresso num ditado popular marroquino, base da arquitetura das medinas, do emprego do moucharabié (treliça), e da arte do véu: 'Pour vivre mieux, vivons cachés'" [Para viver melhor, viver escondidos].

(Antônio Quinet, "Um olhar a mais - Ver e ser visto na psicanálise". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2004, p. 88)

Sob o véu


"O cuidado com o olhar é expresso num ditado popular marroquino, base da arquitetura das medinas, do emprego do moucharabié (treliça), e da arte do véu: 'Pour vivre mieux, vivons cachés'" [Para viver melhor, viver escondidos].

(Antônio Quinet, "Um olhar a mais - Ver e ser visto na psicanálise". Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2004, p. 88)