segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um pouco mais

(Pilar del Río, Lanzarote, Espanha, 2009)

Pilar Del Río me levou às lagrimas em sua entrevista à jornalista Sandra Cohen, publicada ontem no jornal O Globo, um pouco mais de um mês após a partida de Saramago, onde falou sobre a vida que segue, a vida que fica, e sobre todo o seu amor que, definitivamente, não o deixa morrer:

"(...) Como foram os últimos momentos com ele? Saramago falava da morte, houve um ritual de despedida?
PILAR: Não se falava da morte, porque desde sempre soubemos, como todos, que esse é nosso destino. Não se falava nem se evitava o tema, ele simplesmente estava, com naturalidade, sem dramaticidade. Não houve ritual de despedida, como não havia ritual de vida: houve cumplicidade ao longo de 24 anos de vida em comum. Ou talvez houvesse, sim, um ritual: viver cada dia como o primeiro e o último. Com a intensidade e a alegria de escolher como singular e destacada toda ocasião.

Como tem sido sua rotina sem ele? Em que momentos sente mais a sua falta?
PILAR: Não há rotina, cada dia tem o seu afã e são muitas coisas a fazer. Saramago está tão presente o tempo todo e em toda a casa, nas conversas, nos quadros que apreciava, na luz que acendia, no relógio que portava, nos livros que estava lendo e nos já lidos, na música que continua soando e que parece dizer que Saramago está aqui, nesta casa, como está nos corações de todos os que o amávamos, que somos uma legião. E está, porque as idéias não se perdem, tampouco os sentimentos que nos fazem mais humanos e melhores. Na ausência de Saramago há muitas vivências.
(...)
Saramago tinha casa em Portugal, viverei ali a maior parte do tempo. Dei entrada nos trâmites para me nacionalizar portuguesa: quero pertencer ao país que produziu um homem tão bom, tão sábio, tão simples, tão exemplar. Quem sabe assim um pouco disso passa para mim? (...)"

(Entrevista de Pilar Del Rio a Sandra Cohen, publicada em 25.jul.10, no Segundo Caderno do jornal O Globo)

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