quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz 2010!

(Essa imagem é antiga, não conheço a origem e acredito até já ter usado antes, mas que é linda é linda! Então, que venha de novo!).

Já estou aqui pensando nas primeiras resoluções de ano novo com os R$ 100.000.000,00 na mão...
.
Feliz ano novo a todos!

Feliz 2010!

(Essa imagem é antiga, não conheço a origem e acredito até já ter usado antes, mas que é linda é linda! Então, que venha de novo!).

Já estou aqui pensando nas primeiras resoluções de ano novo com os R$ 100.000.000,00 na mão...
.
Feliz ano novo a todos!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mu-danças

(Exposição de fotomontagens de Grete Stern no Instituto Moreira Sales até 17.jan.10)

Algo acontece por aqui.

Das trevas surge a singela e efêmera claridade a revelar o que está para além do divã, para além das bocas que falam sem parar, para além da sombra dos lábios que escondem mais do que belos sorrisos.

Puro fulgor...

E através das lentes da brilhante fotógrafa Grete Stern (1904-1999) os sonhos relatados por mulheres que buscavam explicação para suas angústias foram imortalizados em fotomontagens que ilustraram as publicações da revista argentina Idílio entre os anos de 1948 e 1952, na coluna El psicoanálisis le Ayudará, assinada por Richard Rest, pseudônimo do psicanalista Gino Germani, e estarão em cartaz no Instituto Moreira Sales até o dia 17.jan.09 em uma exposição que - essa sim - não dá para perder.
.
("Artículos Eléctricos para el Hogar", 1950)
.
("En el Andén", 1949) .
.
(Sem título, 1949)
.

("Los Sueños de Realizaciones Futuras", 1950)

Mu-danças

(Exposição de fotomontagens de Grete Stern no Instituto Moreira Sales até 17.jan.10)

Algo acontece por aqui.

Das trevas surge a singela e efêmera claridade a revelar o que está para além do divã, para além das bocas que falam sem parar, para além da sombra dos lábios que escondem mais do que belos sorrisos.

Puro fulgor...

E através das lentes da brilhante fotógrafa Grete Stern (1904-1999) os sonhos relatados por mulheres que buscavam explicação para suas angústias foram imortalizados em fotomontagens que ilustraram as publicações da revista argentina Idílio entre os anos de 1948 e 1952, na coluna El psicoanálisis le Ayudará, assinada por Richard Rest, pseudônimo do psicanalista Gino Germani, e estarão em cartaz no Instituto Moreira Sales até o dia 17.jan.09 em uma exposição que - essa sim - não dá para perder.
.
("Artículos Eléctricos para el Hogar", 1950)
.
("En el Andén", 1949) .
.
(Sem título, 1949)
.

("Los Sueños de Realizaciones Futuras", 1950)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Regente Plutão

..
"Escorpião - de 23/10 a 21/11 - regente Plutão
Nem adianta tentar reprimir seus fortes desejos, é esforço inutil. Além do mais, esta é a energia que o mantém vivo. Mas é a sua vontade que vai decidir como você vai agir: contra ou a favor desses desejos. Essa responsabilidade é toda sua".
(O Globo Online, horóscopo publicado em 25.dez.09)

("Ne me Quitte Pas" por Maria Gadú de dentro do buraco negro, Cinemathèque, Rio de Janeiro, em 13.abr.09)

Está bem: não me deixe. Fique aqui. É o que desejo. Esqueçamos o que pode ser esquecido, o que já passou, o tempo dos mal-entendidos. Esqueçamos também o tempo que já perdemos tentando entender como esquecer o tempo que às vezes pára o coração da felicidade com sopros de porquê.

Não me deixe. É isso. Eu te ofereço pérolas de chuva dos países onde não há chuva, escavo a terra e o que mais precisar escavar para continuar lhe cobrindo de ouro e luz, e fundarei uma terra onde o amor será o rei, será a lei, e você será meu, enfim.

Fique. Não me deixe. Eu continuarei falando o que só você entende, te contando histórias desses amantes que têm seus corações incendiados, e dessa caminhante que já não enxerga estrada sem você.

Não me deixe, não... Afinal, vemos sempre renascer o fogo desse vulcão antigo quando o julgamos adormecido, vemos nascer mais trigo das terras queimadas do que no melhor abril - esse melhor que quase sempre é um problema. E mesmo quando a noite vem, com um céu flamejante, sabemos muito bem que o o vermelho e o negro não se casam. É a diferença que separa. É a diferença que nos une. Nós sabemos disso.

Por isso, não me deixe. Não vou mais chorar, não vou mais falar, estou cansada. Vou ficar aqui escondida, do jeito que você quer, para te contemplar a dançar, a sorrir - e esbravejar de vez em quando -, e para te escutar, ouvir a tua canção e então rir. Serei a sombra da tua sombra, do teu fantasma, a sombra da tua mão, dos teus pés, a sombra daquele cachorrinho adorado, ou sua dama. Você escolhe.

Regente Plutão

..
"Escorpião - de 23/10 a 21/11 - regente Plutão
Nem adianta tentar reprimir seus fortes desejos, é esforço inutil. Além do mais, esta é a energia que o mantém vivo. Mas é a sua vontade que vai decidir como você vai agir: contra ou a favor desses desejos. Essa responsabilidade é toda sua".
(O Globo Online, horóscopo publicado em 25.dez.09)

("Ne me Quitte Pas" por Maria Gadú de dentro do buraco negro, Cinemathèque, Rio de Janeiro, em 13.abr.09)

Está bem: não me deixe. Fique aqui. É o que desejo. Esqueçamos o que pode ser esquecido, o que já passou, o tempo dos mal-entendidos. Esqueçamos também o tempo que já perdemos tentando entender como esquecer o tempo que às vezes pára o coração da felicidade com sopros de porquê.

Não me deixe. É isso. Eu te ofereço pérolas de chuva dos países onde não há chuva, escavo a terra e o que mais precisar escavar para continuar lhe cobrindo de ouro e luz, e fundarei uma terra onde o amor será o rei, será a lei, e você será meu, enfim.

Fique. Não me deixe. Eu continuarei falando o que só você entende, te contando histórias desses amantes que têm seus corações incendiados, e dessa caminhante que já não enxerga estrada sem você.

Não me deixe, não... Afinal, vemos sempre renascer o fogo desse vulcão antigo quando o julgamos adormecido, vemos nascer mais trigo das terras queimadas do que no melhor abril - esse melhor que quase sempre é um problema. E mesmo quando a noite vem, com um céu flamejante, sabemos muito bem que o o vermelho e o negro não se casam. É a diferença que separa. É a diferença que nos une. Nós sabemos disso.

Por isso, não me deixe. Não vou mais chorar, não vou mais falar, estou cansada. Vou ficar aqui escondida, do jeito que você quer, para te contemplar a dançar, a sorrir - e esbravejar de vez em quando -, e para te escutar, ouvir a tua canção e então rir. Serei a sombra da tua sombra, do teu fantasma, a sombra da tua mão, dos teus pés, a sombra daquele cachorrinho adorado, ou sua dama. Você escolhe.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Estrada

("A Estrada" da Cidade Negra por Maria Gadú, Posto 8, Rio de Janeiro, ago/2009)

Aqui sentada diante do meu novo HP, encantada com a voz de Maria Gadú - que até dois dias nunca tinha ouvido falar -, me lembro do meu filho aos prantos nesta cadeira, há pouco mais de uma semana, gritando, e dizendo que odiava o nosso computador antigo porque ele estava muito, muito lento e já não suportava rodar o seu jogo preferido. Ele dizia que quando o novo aparelho chegasse, ele jogaria o antigo no chão e o chutaria até que ele desaparecesse.

Diante de tanta raiva, me lembrei de lembrar ao meu filho todas as coisas boas que vivemos com o computador antigo que, embora já não nos atendesse hoje, nos proporcionou tantos momentos alegres desde que chegou à nossa casa, à nossa vida: a criação de nossos blogs, tantas pesquisas e trabalhos bem sucedidos, tantas gargalhadas no You Tube, tanto carinho para lá e para cá via e-mail ao longo desses anos... que melhor seria simplesmente agradecermos por tudo o que pôde nos dar até aqui - e já não pode mais fazer - e deixá-lo seguir o seu caminho rumo a outro lar que possa se beneficiar do que ele tem para dar, que já não nos serve mais.

O choro cessou. Meu filho escolheu brincar do jeito que era possível.

E deu um novo passo.

A Estrada

("A Estrada" da Cidade Negra por Maria Gadú, Posto 8, Rio de Janeiro, ago/2009)

Aqui sentada diante do meu novo HP, encantada com a voz de Maria Gadú - que até dois dias nunca tinha ouvido falar -, me lembro do meu filho aos prantos nesta cadeira, há pouco mais de uma semana, gritando, e dizendo que odiava o nosso computador antigo porque ele estava muito, muito lento e já não suportava rodar o seu jogo preferido. Ele dizia que quando o novo aparelho chegasse, ele jogaria o antigo no chão e o chutaria até que ele desaparecesse.

Diante de tanta raiva, me lembrei de lembrar ao meu filho todas as coisas boas que vivemos com o computador antigo que, embora já não nos atendesse hoje, nos proporcionou tantos momentos alegres desde que chegou à nossa casa, à nossa vida: a criação de nossos blogs, tantas pesquisas e trabalhos bem sucedidos, tantas gargalhadas no You Tube, tanto carinho para lá e para cá via e-mail ao longo desses anos... que melhor seria simplesmente agradecermos por tudo o que pôde nos dar até aqui - e já não pode mais fazer - e deixá-lo seguir o seu caminho rumo a outro lar que possa se beneficiar do que ele tem para dar, que já não nos serve mais.

O choro cessou. Meu filho escolheu brincar do jeito que era possível.

E deu um novo passo.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Casa

.
Enfim, estou em casa.
No trabalho, na Escola,
Estou em casa.

Casa

.
Enfim, estou em casa.
No trabalho, na Escola,
Estou em casa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vista bonita

(Fotografia de SeluSava, Rio de Janeiro, 2009)
.
O mundo está perdido, disse o rapaz após se confrontar com a dor daquele imenso vazio. O mundo está completamente perdido.
.
Por que está perdido, meu caro, perguntou a que escutava sem qualquer bússola que pudesse emprestar. Está perdido. PER-DI-DO, disse ele. Conheci uma linda mulher, exuberante mesmo, rica, daquelas que têm TUDO na vida, mas imagine só: durante toda a conversa, a cada idéia que expunha, a cada palavra que dizia, a cada tentativa de manter um diálogo amistoso, me assustava mais e mais com os rompantes daquela mulher. Aquilo era ódio, pode acreditar. Ódio mesmo. Quanta intolerância, quanto preconceito, quanta revolta. Como pode... Como se toda a verdade lhe pertencesse e o que escapasse à sua regra simplesmente não prestasse, não merecesse o mínimo respeito. Não me conformo... tão linda a desgraçada. E num lampejo dos bons, concluiu: estou perdido, me acostumei mal ao que é bom... incrível, mas uma mulher como essa já não me diz nada...
.
E a que ouvia a história pensou naqueles que se acostumam mal ao que é bom, nos que se acostumam bem ao que faz mal, nos que falam de tudo e não dizem nada, nos que fazem do nada belas canções. Silente, pensou em como a diferença surge, justamente, do que se faz de cada diferença, de cada vazio, de cada saudade. Pensou ainda se o consultório terá vista bonita, como será o cartão de visita, e que por via das dúvidas é bom sair cedo porque o trânsito até Ipanema, hoje, promete.

Vista bonita

(Fotografia de SeluSava, Rio de Janeiro, 2009)
.
O mundo está perdido, disse o rapaz após se confrontar com a dor daquele imenso vazio. O mundo está completamente perdido.
.
Por que está perdido, meu caro, perguntou a que escutava sem qualquer bússola que pudesse emprestar. Está perdido. PER-DI-DO, disse ele. Conheci uma linda mulher, exuberante mesmo, rica, daquelas que têm TUDO na vida, mas imagine só: durante toda a conversa, a cada idéia que expunha, a cada palavra que dizia, a cada tentativa de manter um diálogo amistoso, me assustava mais e mais com os rompantes daquela mulher. Aquilo era ódio, pode acreditar. Ódio mesmo. Quanta intolerância, quanto preconceito, quanta revolta. Como pode... Como se toda a verdade lhe pertencesse e o que escapasse à sua regra simplesmente não prestasse, não merecesse o mínimo respeito. Não me conformo... tão linda a desgraçada. E num lampejo dos bons, concluiu: estou perdido, me acostumei mal ao que é bom... incrível, mas uma mulher como essa já não me diz nada...
.
E a que ouvia a história pensou naqueles que se acostumam mal ao que é bom, nos que se acostumam bem ao que faz mal, nos que falam de tudo e não dizem nada, nos que fazem do nada belas canções. Silente, pensou em como a diferença surge, justamente, do que se faz de cada diferença, de cada vazio, de cada saudade. Pensou ainda se o consultório terá vista bonita, como será o cartão de visita, e que por via das dúvidas é bom sair cedo porque o trânsito até Ipanema, hoje, promete.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

("Nu na Água", Salvador Dalí)
."A Pilar, como se dissesse água"
.
(José Saramago, dedicatória a Pilar del Río em "Caim", São Paulo: Companhia das Letras, 2009)

"Uma mulher é, para um homem, um sinthoma. Um homem é, para uma mulher, pior que um sintoma, uma aflição".
(Jacques Lacan, "O Seminário, Livro 23 - O Sinthoma", Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 101)

E é nessa aflição, nesse vazio, nessa falta que as palavras fazem, nesse lugar vago dele, nesse embaraço de letras silenciadas, engasgadas, titubeantes, nessa espera, por ele, é que sou, simplesmente, mulher.
("Nu na Água", Salvador Dalí)
."A Pilar, como se dissesse água"
.
(José Saramago, dedicatória a Pilar del Río em "Caim", São Paulo: Companhia das Letras, 2009)

"Uma mulher é, para um homem, um sinthoma. Um homem é, para uma mulher, pior que um sintoma, uma aflição".
(Jacques Lacan, "O Seminário, Livro 23 - O Sinthoma", Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 101)

E é nessa aflição, nesse vazio, nessa falta que as palavras fazem, nesse lugar vago dele, nesse embaraço de letras silenciadas, engasgadas, titubeantes, nessa espera, por ele, é que sou, simplesmente, mulher.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O grito


(Lenine interpretando "O que é Bonito" no Acústico MTV, 2006)
É bonito. E dói.

O grito


(Lenine interpretando "O que é Bonito" no Acústico MTV, 2006)
É bonito. E dói.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Subwoofer

("Music" por Sakeinusesa, Lituânia, 2008)

Como é fácil ser feliz ao lado de caixas de som subwoofer.
Depois dizem que é difícil entender as mulheres...

Subwoofer

("Music" por Sakeinusesa, Lituânia, 2008)

Como é fácil ser feliz ao lado de caixas de som subwoofer.
Depois dizem que é difícil entender as mulheres...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Impossível


"O Imaginário é precisamente definido por sua coalescência (sua cola), ou ainda seu poder de manchar: nada da imagem pode ser esquecido; uma memória extenuante impede de se sair à vontade do amor, enfim de morar nele comportadamente, razoavelmente. Posso até imaginar alguns procedimentos para obter a circunscrição dos meus prazeres (converter a raridade da freqüência no luxo da relação, à moda epicuriana; ou ainda, considerar o outro como perdido, e a partir de então saborear, cada vez que ele volta, o alívio de uma ressurreição), é trabalho jogado fora: o grude amoroso é indissolúvel; ou se agüenta ou se sai: dar um jeito é impossível (o amor não é nem dialético nem reformista)".
.
(Roland Barthes, "Fragmentos de um Discurso Amoroso", Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 45)

Impossível


"O Imaginário é precisamente definido por sua coalescência (sua cola), ou ainda seu poder de manchar: nada da imagem pode ser esquecido; uma memória extenuante impede de se sair à vontade do amor, enfim de morar nele comportadamente, razoavelmente. Posso até imaginar alguns procedimentos para obter a circunscrição dos meus prazeres (converter a raridade da freqüência no luxo da relação, à moda epicuriana; ou ainda, considerar o outro como perdido, e a partir de então saborear, cada vez que ele volta, o alívio de uma ressurreição), é trabalho jogado fora: o grude amoroso é indissolúvel; ou se agüenta ou se sai: dar um jeito é impossível (o amor não é nem dialético nem reformista)".
.
(Roland Barthes, "Fragmentos de um Discurso Amoroso", Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 45)

sábado, 31 de outubro de 2009

Mordida

(Fotografia de Mark Duffy, Paris, 2009)

"A senhora olhou para ele e baixou os olhos.
- Não morde - disse ela e corou."

(A. P. Tchekhov, "A Dama do Cachorrinho" in "A Dama do Cachorinho e Outros Contos". São Paulo: Editora 34, 2009, p. 316)

Mordida

(Fotografia de Mark Duffy, Paris, 2009)

"A senhora olhou para ele e baixou os olhos.
- Não morde - disse ela e corou."

(A. P. Tchekhov, "A Dama do Cachorrinho" in "A Dama do Cachorinho e Outros Contos". São Paulo: Editora 34, 2009, p. 316)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Mais além

.
Era tanta saudade, é pra matar
Eu fiquei até doente, eu fiquei até doente menina
Se eu não mato a saudade, é deixa estar
Saudade mata a gente, saudade mata a gente menina
Quis saber o que é o desejo, de onde ele vem
Fui até o centro da Terra e é mais além
Procurei uma saída e o amor não tem
Estava ficando louco, louco de querer bem
.
(Trecho de "Tanta Saudade", Chico Buarque e Djavan)

Mais além

.
Era tanta saudade, é pra matar
Eu fiquei até doente, eu fiquei até doente menina
Se eu não mato a saudade, é deixa estar
Saudade mata a gente, saudade mata a gente menina
Quis saber o que é o desejo, de onde ele vem
Fui até o centro da Terra e é mais além
Procurei uma saída e o amor não tem
Estava ficando louco, louco de querer bem
.
(Trecho de "Tanta Saudade", Chico Buarque e Djavan)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Indulgência

(Martha Freud, Sigmund Freud e Minna Bernays, Altaussee, Áustria, 1905. Fotografia de T.Maresch Nachlass in The Freud Museum London)
.
"Posso apenas manifestar a esperança de que os leitores deste livro se coloquem em minha difícil posição e me tratem com indulgência, e, além disso, que qualquer um que encontre alguma espécie de referência a si próprio em meus sonhos se disponha a conceder-me o direito à liberdade de pensamento - ao menos em minha vida onírica, se não em qualquer outra".
.
(Sigmund Freud, trecho do prefácio à primeira edição de "A Interpretação dos Sonhos" (1900), Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 12)

Indulgência

(Martha Freud, Sigmund Freud e Minna Bernays, Altaussee, Áustria, 1905. Fotografia de T.Maresch Nachlass in The Freud Museum London)
.
"Posso apenas manifestar a esperança de que os leitores deste livro se coloquem em minha difícil posição e me tratem com indulgência, e, além disso, que qualquer um que encontre alguma espécie de referência a si próprio em meus sonhos se disponha a conceder-me o direito à liberdade de pensamento - ao menos em minha vida onírica, se não em qualquer outra".
.
(Sigmund Freud, trecho do prefácio à primeira edição de "A Interpretação dos Sonhos" (1900), Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 12)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Natureza

(Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe em "Antichrist", de Lars von Trier, DIN-FRA-ALE-ITA-POL-SUÉ/2009).
"Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva".
.
(Trecho do novo livro de José Saramago, "Caim", com lançamento mundial hoje - no Brasil pela Companhia das Letras -, publicado em 16.out.09 na edição online da Revista Época)

Natureza

(Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe em "Antichrist", de Lars von Trier, DIN-FRA-ALE-ITA-POL-SUÉ/2009).
"Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva".
.
(Trecho do novo livro de José Saramago, "Caim", com lançamento mundial hoje - no Brasil pela Companhia das Letras -, publicado em 16.out.09 na edição online da Revista Época)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Flecha do Tempo

(Imagem no site La Flecha del Tiempo, de Diego Goldberg, Argentina, 2009)
.
#1 Um grande amigo esteve ontem no The Freud Museum, em Londres, disse que se lembrou de mim e comprou um presente de aniversário para me dar. Sorri.
.
#2 Hoje, relendo a introdução ao Seminário da Transferência, de Lacan, observei que aquela primeira reunião aconteceu no dia 16 de novembro de 1960. "No Começo Era o Amor"... E eu ainda não descobri o que vem depois.
.
#3 Buscando uma boa imagem de Gradiva para ilustrar o post de hoje, me deparei com Suzy Goldberg. Ao seu lado, Diego. E ele disse: "El 17 de junio, cada año, la familia pasa por un ritual privado: nos fotografíamos para detener, por um momento evanescente, la flecha del tiempo que por allí pasa". O começo foi em 1976. Suzy sorriu em 1988. E a tal flecha nunca parou, nem por um instante. Zoe vive.

A Flecha do Tempo

(Imagem no site La Flecha del Tiempo, de Diego Goldberg, Argentina, 2009)
.
#1 Um grande amigo esteve ontem no The Freud Museum, em Londres, disse que se lembrou de mim e comprou um presente de aniversário para me dar. Sorri.
.
#2 Hoje, relendo a introdução ao Seminário da Transferência, de Lacan, observei que aquela primeira reunião aconteceu no dia 16 de novembro de 1960. "No Começo Era o Amor"... E eu ainda não descobri o que vem depois.
.
#3 Buscando uma boa imagem de Gradiva para ilustrar o post de hoje, me deparei com Suzy Goldberg. Ao seu lado, Diego. E ele disse: "El 17 de junio, cada año, la familia pasa por un ritual privado: nos fotografíamos para detener, por um momento evanescente, la flecha del tiempo que por allí pasa". O começo foi em 1976. Suzy sorriu em 1988. E a tal flecha nunca parou, nem por um instante. Zoe vive.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Espera

(Fotografia de Hugo Dantas. Aeroporto Santos Dumont agora há pouco.)

"Espero uma chegada, uma volta, um sinal prometido. Pode ser fútil ou imensamente patético: em Erwartung (Espera), uma mulher espera seu amante, de noite, na floresta"...
.
(Roland Barthes, "Fragmentos de um Discurso Amoroso", Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 94)
.
... quanto a mim, só espero um vôo para Congonhas, mas é a mesma angústia. Só há vôos para Curitiba. E Londrina. Tudo é solene. Tudo é solene...

A Espera

(Fotografia de Hugo Dantas. Aeroporto Santos Dumont agora há pouco.)

"Espero uma chegada, uma volta, um sinal prometido. Pode ser fútil ou imensamente patético: em Erwartung (Espera), uma mulher espera seu amante, de noite, na floresta"...
.
(Roland Barthes, "Fragmentos de um Discurso Amoroso", Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 94)
.
... quanto a mim, só espero um vôo para Congonhas, mas é a mesma angústia. Só há vôos para Curitiba. E Londrina. Tudo é solene. Tudo é solene...

sábado, 3 de outubro de 2009

Viver a Paixão

("Unity Celebration", Rio Olímpico 2016. Vídeo institucional apresentado ao Comitê Olímpico Internacional em 02.out.09. Filme de Fernando Meirelles, O2 Filmes)

Viver a paixão faz nascer o sonho. E a possibilidade do futuro se tornar realidade. Quando, só então, alguém poderá dizer: se morresse agora, eu morreria feliz.

"Comecei a lembrar da minha vida, comecei a lembrar das coisas que pareciam impossíveis, comecei a lembrar da apresentação do Rio. Deu vontade de chorar".

(Lula em Copenhague, hoje pela manhã, ao repórter do O Globo Luiz Ernesto Magalhães)

Viver a Paixão

("Unity Celebration", Rio Olímpico 2016. Vídeo institucional apresentado ao Comitê Olímpico Internacional em 02.out.09. Filme de Fernando Meirelles, O2 Filmes)

Viver a paixão faz nascer o sonho. E a possibilidade do futuro se tornar realidade. Quando, só então, alguém poderá dizer: se morresse agora, eu morreria feliz.

"Comecei a lembrar da minha vida, comecei a lembrar das coisas que pareciam impossíveis, comecei a lembrar da apresentação do Rio. Deu vontade de chorar".

(Lula em Copenhague, hoje pela manhã, ao repórter do O Globo Luiz Ernesto Magalhães)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Traços

(Maria Gabriela Llansol, 1931-2008, Portugal)
.
"A vida é uma cadeia sem datas. Só lhe interessa a energia que lhe dá.
- E quando os datas?
- É a significação que lhes retiro. Deixo-a fluir, e retiro-lhe a significação.
- Mas, em vez de datas, prefiro o traço.
- Ou seja, se pudesses só fazia traços?
- E então nada dizia? Não. Há um momento em que a significação dispara - a vida não vai para lado nenhum, mas eu quero ir.
- Então fazes um traço.
- Sim. Os textos são as marcas indeléveis e perceptíveis de que falaste sobre o amor".
.
(Maria Gabriela Llansol in "Ardente texto Joshua", Lisboa: Relógio d'Água, 1998, p. 96-97)

Traços

(Maria Gabriela Llansol, 1931-2008, Portugal)
.
"A vida é uma cadeia sem datas. Só lhe interessa a energia que lhe dá.
- E quando os datas?
- É a significação que lhes retiro. Deixo-a fluir, e retiro-lhe a significação.
- Mas, em vez de datas, prefiro o traço.
- Ou seja, se pudesses só fazia traços?
- E então nada dizia? Não. Há um momento em que a significação dispara - a vida não vai para lado nenhum, mas eu quero ir.
- Então fazes um traço.
- Sim. Os textos são as marcas indeléveis e perceptíveis de que falaste sobre o amor".
.
(Maria Gabriela Llansol in "Ardente texto Joshua", Lisboa: Relógio d'Água, 1998, p. 96-97)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Partir do Fundamento

(Intervenção artística de Nelson Felix, "4 Cantos", Portugal, 2008)

Não conhecia. Nunca tinha ouvido falar, mas na semana passada tive a sorte de descobrir o magnífico trabalho do poeta-escultor Nelson Felix que, em sua obra, fala do espaço da construção - não do físico, mas o mental -, fala da passagem do tempo, fala da impossibilidade de conhecermos o todo da obra, a sua completude.
.
A idéia inicial do projeto "4 Cantos" - que muito me encantou -, resultante de uma série de associações e significações do artista, era retirar quatro blocos de pedras calcárias da pedreira de Fátima e levá-los aos quatro pontos extremos de Portugal: Bragança, Viana do Castelo, Sagres e Faro.
.
Ao partir com as rochas para a viagem, Nelson Felix tinha em mente apenas parte do trabalho que pretendia realizar. Chegando ao lugar escolhido - que geralmente era diferente do planejado -, abandonava as pedras de forma aleatória no espaço, deixando que a natureza atuasse sobre a sua intervenção, quando, então, voltava ele a atuar sobre as rochas, sulcando a superfície porosa, dando origem a desenhos.
.
Segundo ele, com essa nova intervenção, retirava aos poucos, uma a uma, todas as significações construídas até ali. Estes novos símbolos representariam a retirada dos excessos, a minimalização dos pensamentos do artista sobre a obra, que, por sua vez, é registrada em uma única fotografia - que não revela a obra-toda, mas a obra-parte -, antes de ser finalmente deixada "pelo caminho", na natureza.
.
E é dessa tensão, dessa forçagem, dessa incompletude que nasce a obra de Nelson Felix.
.
(Ponteiras com inscrições de versos de Sophia de Mello Breyner usadas na obra)
.
Ao final, no quarto canto do projeto - o centro histórico de Faro - o artista tombou os blocos pela última vez e os travou com ponteiras fundidas em bronze, com a inscrição dos versos do poema "A Casa Térrea", de Sophia de Mello Breyner, que fala aos poetas, aos artistas, mas fala também a todos que desejam ouvir. E caminhar. Ela fala de esperança, e nos lembra que somente através da desconstrução, da descompletude, poderemos, enfim, contruir a nossa casa "a partir do fundamento".
.
"Que a arte não se torne para ti compensação daquilo que
Não soubeste ser
Que não seja transferência nem refúgio
Nem deixes que o poema te adie ou divida: mas que seja
A verdade do teu inteiro estar terrestre
Então construirás a tua casa na planície costeira
A meia distância entre a montanha e o mar
Construirás – como se diz – a casa térrea –
Construirás a partir do fundamento".
.
(Sophia de Mello Breyner ,“A Casa Térrea” in “O Nome das Coisas”, Lisboa, 1977)

Nelson Felix apresentou o seu trabalho no Rio de Janeiro, na H.A.P. Galeria, de 01 de novembro a 06 de dezembro de 2008, e participou de um colóquio sobre arte e psicanálise no dia 16.set.09, em Ipanema. Vale aguardar o seu retorno.

A Partir do Fundamento

(Intervenção artística de Nelson Felix, "4 Cantos", Portugal, 2008)

Não conhecia. Nunca tinha ouvido falar, mas na semana passada tive a sorte de descobrir o magnífico trabalho do poeta-escultor Nelson Felix que, em sua obra, fala do espaço da construção - não do físico, mas o mental -, fala da passagem do tempo, fala da impossibilidade de conhecermos o todo da obra, a sua completude.
.
A idéia inicial do projeto "4 Cantos" - que muito me encantou -, resultante de uma série de associações e significações do artista, era retirar quatro blocos de pedras calcárias da pedreira de Fátima e levá-los aos quatro pontos extremos de Portugal: Bragança, Viana do Castelo, Sagres e Faro.
.
Ao partir com as rochas para a viagem, Nelson Felix tinha em mente apenas parte do trabalho que pretendia realizar. Chegando ao lugar escolhido - que geralmente era diferente do planejado -, abandonava as pedras de forma aleatória no espaço, deixando que a natureza atuasse sobre a sua intervenção, quando, então, voltava ele a atuar sobre as rochas, sulcando a superfície porosa, dando origem a desenhos.
.
Segundo ele, com essa nova intervenção, retirava aos poucos, uma a uma, todas as significações construídas até ali. Estes novos símbolos representariam a retirada dos excessos, a minimalização dos pensamentos do artista sobre a obra, que, por sua vez, é registrada em uma única fotografia - que não revela a obra-toda, mas a obra-parte -, antes de ser finalmente deixada "pelo caminho", na natureza.
.
E é dessa tensão, dessa forçagem, dessa incompletude que nasce a obra de Nelson Felix.
.
(Ponteiras com inscrições de versos de Sophia de Mello Breyner usadas na obra)
.
Ao final, no quarto canto do projeto - o centro histórico de Faro - o artista tombou os blocos pela última vez e os travou com ponteiras fundidas em bronze, com a inscrição dos versos do poema "A Casa Térrea", de Sophia de Mello Breyner, que fala aos poetas, aos artistas, mas fala também a todos que desejam ouvir. E caminhar. Ela fala de esperança, e nos lembra que somente através da desconstrução, da descompletude, poderemos, enfim, contruir a nossa casa "a partir do fundamento".
.
"Que a arte não se torne para ti compensação daquilo que
Não soubeste ser
Que não seja transferência nem refúgio
Nem deixes que o poema te adie ou divida: mas que seja
A verdade do teu inteiro estar terrestre
Então construirás a tua casa na planície costeira
A meia distância entre a montanha e o mar
Construirás – como se diz – a casa térrea –
Construirás a partir do fundamento".
.
(Sophia de Mello Breyner ,“A Casa Térrea” in “O Nome das Coisas”, Lisboa, 1977)

Nelson Felix apresentou o seu trabalho no Rio de Janeiro, na H.A.P. Galeria, de 01 de novembro a 06 de dezembro de 2008, e participou de um colóquio sobre arte e psicanálise no dia 16.set.09, em Ipanema. Vale aguardar o seu retorno.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Demanda x Desejo

(Ilustração de BladeBV publicada no Photobucket)
.
"1. Como o cliente explica o que quer
2. Como o líder do projeto entendeu
3. Como o analista projetou
4. Como o programador escreveu
5. Como o consultor de negócios descreveu
6. Como o projeto foi documentado
7. Como as operações foram feitas
8. Como o cliente foi cobrado
9. Como foi suportado
10. O que o cliente realmente precisava".

Pensando no desejo me deparei com esta imagem há dez dias.
Ela me iluminou.
Tive vontade de falar tantas coisas sobre ela que, talvez por isso, não tenha conseguido publicá-la até agora.
- Vá então, imagem inspiradora! Vá e faça a sua parte!
As minhas palavras não são necessárias.
Você fala por si!

Demanda x Desejo

(Ilustração de BladeBV publicada no Photobucket)
.
"1. Como o cliente explica o que quer
2. Como o líder do projeto entendeu
3. Como o analista projetou
4. Como o programador escreveu
5. Como o consultor de negócios descreveu
6. Como o projeto foi documentado
7. Como as operações foram feitas
8. Como o cliente foi cobrado
9. Como foi suportado
10. O que o cliente realmente precisava".

Pensando no desejo me deparei com esta imagem há dez dias.
Ela me iluminou.
Tive vontade de falar tantas coisas sobre ela que, talvez por isso, não tenha conseguido publicá-la até agora.
- Vá então, imagem inspiradora! Vá e faça a sua parte!
As minhas palavras não são necessárias.
Você fala por si!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sol-lhe-dão

(Fotografia “Arco do Teles” por José Antônio, Rio de Janeiro, 2009)
.
A minha querida amiga Marla de Queiroz nos presenteou hoje, em seu blog, com uma bela descrição da fisionomia da saudade. Ela desenha a lembrança do desejo, contorna aquilo que vai além, "ao desalcance dos olhos", preenche essa existência "ampliada pelo sol do amor" e pinta com uma "ternura escandalosa" o toque, o olhar, o cheiro, a voz daquele estrangeiro tão familiar cujo corpo insinua "mais que uma leitura, mais que uma dança, mais que comunhão". Mais e mais. Sempre mais.
.
Ela rabisca invenções, esboça outras que ainda serão inventadas para "namoramar em dialeto inexistente", borra com os "sussuruídos de Guimarães" tantos delírios poéticos daquela saudade familiar do que ainda virá, e nos convida, ao final, a uma experiência encantadora:
.
"Amores, dia 11/set, sexta-feira é dia da campanha DOE UM LIVRO. Já fizemos isto aqui uma vez e foi lindo! Funciona assim: escolha um livro que tenha lido e gostado, escreva uma dedicatória para um desconhecido (para que ele saiba que não foi perdido, que foi dado de presente) e abandone pela cidade, em algum lugar protegido em caso de chuva: ônibus, bar, cinema, enfim....Já separei o meu".

Lembrei do sol e estendo o meu convite a vocês.
Afinal, dar e receber não tem mistério.
A graça está em compartilhar. Acho.

Sol-lhe-dão

(Fotografia “Arco do Teles” por José Antônio, Rio de Janeiro, 2009)
.
A minha querida amiga Marla de Queiroz nos presenteou hoje, em seu blog, com uma bela descrição da fisionomia da saudade. Ela desenha a lembrança do desejo, contorna aquilo que vai além, "ao desalcance dos olhos", preenche essa existência "ampliada pelo sol do amor" e pinta com uma "ternura escandalosa" o toque, o olhar, o cheiro, a voz daquele estrangeiro tão familiar cujo corpo insinua "mais que uma leitura, mais que uma dança, mais que comunhão". Mais e mais. Sempre mais.
.
Ela rabisca invenções, esboça outras que ainda serão inventadas para "namoramar em dialeto inexistente", borra com os "sussuruídos de Guimarães" tantos delírios poéticos daquela saudade familiar do que ainda virá, e nos convida, ao final, a uma experiência encantadora:
.
"Amores, dia 11/set, sexta-feira é dia da campanha DOE UM LIVRO. Já fizemos isto aqui uma vez e foi lindo! Funciona assim: escolha um livro que tenha lido e gostado, escreva uma dedicatória para um desconhecido (para que ele saiba que não foi perdido, que foi dado de presente) e abandone pela cidade, em algum lugar protegido em caso de chuva: ônibus, bar, cinema, enfim....Já separei o meu".

Lembrei do sol e estendo o meu convite a vocês.
Afinal, dar e receber não tem mistério.
A graça está em compartilhar. Acho.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Desejo

(Sabine Bonnaire em "O nome dela é Sabine", filme de Sandrine Bonnaire, 2007)
.
"Mundo, confranges-me por existir.
Tenho-te horror porque te sinto ser
E compreendo que te sinto ser
Até às fezes da compreensão.
Bebi a taça [...] do pensamento
Até ao fim; reconhecia pois
Vazia, e achei horror.
Mas eu bebi-a.
Raciocinei até achar verdade,
Achei-a e não a entendo.
Já se esvai
Neste desejo de compreensão,
Inalteravelmente,
Neste lidar com seres e absolutos,
O que em mim, por sentir, me liga à vida".
.
(Fernando Pessoa, "Primeiro Fausto - Primeiro Tema: Mistério do Mundo" in "Poemas Dramáticos", Lisboa, 1952)

Desejo

(Sabine Bonnaire em "O nome dela é Sabine", filme de Sandrine Bonnaire, 2007)
.
"Mundo, confranges-me por existir.
Tenho-te horror porque te sinto ser
E compreendo que te sinto ser
Até às fezes da compreensão.
Bebi a taça [...] do pensamento
Até ao fim; reconhecia pois
Vazia, e achei horror.
Mas eu bebi-a.
Raciocinei até achar verdade,
Achei-a e não a entendo.
Já se esvai
Neste desejo de compreensão,
Inalteravelmente,
Neste lidar com seres e absolutos,
O que em mim, por sentir, me liga à vida".
.
(Fernando Pessoa, "Primeiro Fausto - Primeiro Tema: Mistério do Mundo" in "Poemas Dramáticos", Lisboa, 1952)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Relançando o tal Desejo

(Sabine em uma cena do documentário "O nome dela é Sabine" -"Elle s’appele Sabine" - de Sandrine Bonnaire, França, 2007)
.
Então, vamos lá.
O desejo é agora novo.
O objeto é o mesmo - que bom -, mas o desejo é novo.
E eu que queria saber se essas coisas eram possíveis mesmo ou se era conversa de Lacan...
Veja só.
Como diria a Calcanhotto, "Flores"! Muitas flores para Lacan!
.
E por falar em flores, me lembrei de uns "exilados" que andam por aí.
Exilados queixosos.
Exilados fujões.
Exilados brigões, cansados, sofridos, andarilhos queridos, chorões, tateantes, falantes, faltantes inconformados, adoráveis ouvintes desta rádio-blá-de-bolha-de-sabão.
.
Pois BEM, meu bem.
Surge, então, a questão: Que exílio é esse de que se trata?
.
De exílio eu não entendo muito bem, não - como quase tudo nessa vida - mas devo confessar que desejo muito entender...
.
Exílio me leva àqueles que estão longe de casa, banidos, refugiados em algum lugar distante, desterrados, desgraçadamente afastados de nós, ausentes.
.
E tua voz, presente, me conduz.
.
E teu exílio me leva ao belíssimo documentário que assistirei neste final de semana chamado "O nome dela é Sabine", que nos conta a história de uma mulher que filma a sua irmã mais nova ao longo da vida e, com uma coragem admirável, nos revela a sua imensa dor. Ela nos conta que o seu mundo, na verdade, era ela.
Longe dali.
.
(O Globo online, crítica de Andre Miranda, publicada em 10.ago.09)
.
"Minha irmã, meu mundo
‘O nome dela é Sabine’. Com a câmera na mão, a diretora filma sua irmã mais nova, em imagens que serão montadas em alternância com cenas de arquivo. Nada demais se uma não fosse Sandrine Bonnaire, uma das mais talentosas atrizes francesas, e se a outra não tivesse autismo. O documentário “Elle s’appelle Sabine” (no original) desperta um interesse inicial por conta da fama de sua diretora e pela vontade dela em expor seu drama familiar.
.
Só que isso é apenas o ponto de partida. Com a narração de Sandrine, vai se entendendo como o estado de Sabine foi piorando, muito por equívocos externos (dos parentes, inclusive). A diretora parece carregar uma espécie de culpa, ao mesmo tempo em que tenta transformar em imagem o fardo de seguir ao lado da irmã quando o autismo se agrava. Em paralelo ao distúrbio de uma está o sentimento da outra. “O nome dela é Sabine e o meu é Sandrine” seria um título apropriado.
.
Mas não se deve imaginar que o tom pessoal faça do filme uma obra egocêntrica. A relação sincera — nunca piedosa — das irmãs Bonnaire consegue imprimir um caráter instrutivo ao documentário. As gravações antigas mostram como Sabine era bonita e tinha vida social, apesar das implicações de um distúrbio que a família demorou a compreender (...)".