quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vista bonita

(Fotografia de SeluSava, Rio de Janeiro, 2009)
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O mundo está perdido, disse o rapaz após se confrontar com a dor daquele imenso vazio. O mundo está completamente perdido.
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Por que está perdido, meu caro, perguntou a que escutava sem qualquer bússola que pudesse emprestar. Está perdido. PER-DI-DO, disse ele. Conheci uma linda mulher, exuberante mesmo, rica, daquelas que têm TUDO na vida, mas imagine só: durante toda a conversa, a cada idéia que expunha, a cada palavra que dizia, a cada tentativa de manter um diálogo amistoso, me assustava mais e mais com os rompantes daquela mulher. Aquilo era ódio, pode acreditar. Ódio mesmo. Quanta intolerância, quanto preconceito, quanta revolta. Como pode... Como se toda a verdade lhe pertencesse e o que escapasse à sua regra simplesmente não prestasse, não merecesse o mínimo respeito. Não me conformo... tão linda a desgraçada. E num lampejo dos bons, concluiu: estou perdido, me acostumei mal ao que é bom... incrível, mas uma mulher como essa já não me diz nada...
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E a que ouvia a história pensou naqueles que se acostumam mal ao que é bom, nos que se acostumam bem ao que faz mal, nos que falam de tudo e não dizem nada, nos que fazem do nada belas canções. Silente, pensou em como a diferença surge, justamente, do que se faz de cada diferença, de cada vazio, de cada saudade. Pensou ainda se o consultório terá vista bonita, como será o cartão de visita, e que por via das dúvidas é bom sair cedo porque o trânsito até Ipanema, hoje, promete.

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