domingo, 31 de agosto de 2008

Enquanto isso...

... Em um poste qualquer em Santa Teresa.

(Fotografia de Isabela Dantas, Santa Teresa, Rio de Janeiro, 2008)

Pensei comigo: "E tudo começou por causa do chulé dela. Mulher com chulé é foda... Dá nisso."

Enquanto isso...

... Em um poste qualquer em Santa Teresa.

(Fotografia de Isabela Dantas, Santa Teresa, Rio de Janeiro, 2008)

Pensei comigo: "E tudo começou por causa do chulé dela. Mulher com chulé é foda... Dá nisso."

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Eu, Freud e o Sapo.

Um dia desses, no trabalho:
- O que você está lendo? - Perguntou um colega.

Mostrei-lhe a capa do livro sem maiores explicações, e ele não agüentou:
- Freud??? Que sapinho é esse??? Isso não combina com o livro!!!
- Não? - Perguntei calmamente.
- Claro que não! A leitura de Freud é densa, pesada, e o sapinho é tão... infantil.
- Pois é... eu acho que combinam - Respondi sem entrar no mérito, densidade ou peso da questão.
- E por quê? - Questionou inconformado o colega.
- Porque são queridos para mim. Acho que devem ficar juntos.

Disfarçando o seu "sem-graça" lá se foi o colega sem ter a explicação de que o sapinho marcador, na verdade, era um presente do meu filho. Preferi não contar. Afinal, quem se importa?

Eu, Freud e o Sapo.

Um dia desses, no trabalho:
- O que você está lendo? - Perguntou um colega.

Mostrei-lhe a capa do livro sem maiores explicações, e ele não agüentou:
- Freud??? Que sapinho é esse??? Isso não combina com o livro!!!
- Não? - Perguntei calmamente.
- Claro que não! A leitura de Freud é densa, pesada, e o sapinho é tão... infantil.
- Pois é... eu acho que combinam - Respondi sem entrar no mérito, densidade ou peso da questão.
- E por quê? - Questionou inconformado o colega.
- Porque são queridos para mim. Acho que devem ficar juntos.

Disfarçando o seu "sem-graça" lá se foi o colega sem ter a explicação de que o sapinho marcador, na verdade, era um presente do meu filho. Preferi não contar. Afinal, quem se importa?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Por pouco não foram sinais de fumaça...

E-mails? Jornais? Blogs? Esquece.
Você ficará sem conexão de internet por dois dias em Foz do Iguaçu.
Estará só.
Completamente só.
E gostará disso.
Será uma viagem como tantas outras, mas com uma diferença fundamental: você.
Talvez não se dê conta de como tem exercitado sua solidão ultimamente.
Talvez tenha a exata noção e, por isso mesmo, vá gostar tanto.
Para trás, nenhum coração aflito.
Ninguém à espera de uma palavra, um conforto.
Ninguém.
O que passou já não existe.
O que virá ainda não sei.
Aqui, só você.
Você, Freud e o Sapo.
A saudade de casa já não será desamparo.
A saudade do outro já não será dependência.
O seu retorno será o primeiro de muitos outros.
E a isso dará o nome de felicidade.

Por pouco não foram sinais de fumaça...

E-mails? Jornais? Blogs? Esquece.
Você ficará sem conexão de internet por dois dias em Foz do Iguaçu.
Estará só.
Completamente só.
E gostará disso.
Será uma viagem como tantas outras, mas com uma diferença fundamental: você.
Talvez não se dê conta de como tem exercitado sua solidão ultimamente.
Talvez tenha a exata noção e, por isso mesmo, vá gostar tanto.
Para trás, nenhum coração aflito.
Ninguém à espera de uma palavra, um conforto.
Ninguém.
O que passou já não existe.
O que virá ainda não sei.
Aqui, só você.
Você, Freud e o Sapo.
A saudade de casa já não será desamparo.
A saudade do outro já não será dependência.
O seu retorno será o primeiro de muitos outros.
E a isso dará o nome de felicidade.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vou ali e volto já...

Estou indo a Foz do Iguaçu a trabalho - uau... - e, apesar de não ser NADA consumista, estou sendo bombardeada por críticas vindas de todos os lados porque, afinal de contas, naquela Zona Franca deles podemos encontrar as melhores ofertas de tudo que se possa desejar e imaginar "na vida"...

- Me dá um exemplo - perguntei ao meu amigo.
- Sei lá... perfume, ipod, tênis... um monte de coisas...

[uau...]

Bom, como estou indo sem grandes pretensões de compras, aviso logo que se alguém quiser alguma buginganga de lá, é só dar um jeito de me avisar!

Estarei conectada o tempo todo.

[Claro]

Beijos a todos!

OBS. Ah, e o melhor de tudo: só faltam 16 dias para a estréia de Blindness.

Vou ali e volto já...

Estou indo a Foz do Iguaçu a trabalho - uau... - e, apesar de não ser NADA consumista, estou sendo bombardeada por críticas vindas de todos os lados porque, afinal de contas, naquela Zona Franca deles podemos encontrar as melhores ofertas de tudo que se possa desejar e imaginar "na vida"...

- Me dá um exemplo - perguntei ao meu amigo.
- Sei lá... perfume, ipod, tênis... um monte de coisas...

[uau...]

Bom, como estou indo sem grandes pretensões de compras, aviso logo que se alguém quiser alguma buginganga de lá, é só dar um jeito de me avisar!

Estarei conectada o tempo todo.

[Claro]

Beijos a todos!

OBS. Ah, e o melhor de tudo: só faltam 16 dias para a estréia de Blindness.

domingo, 24 de agosto de 2008

Encantamento


Pedágio da ponte Rio-Niterói: R$ 3,80.
Ingresso do Museu de Arte Contemporânea (MAC): R$ 4,00
Ter a oportunidade de registrar um momento como como este, não tem preço.

MAC de Niterói
Michel Groisman e Sung Pyo Hong - Porta das Mãos
26.07 a 28.09

Encantamento


Pedágio da ponte Rio-Niterói: R$ 3,80.
Ingresso do Museu de Arte Contemporânea (MAC): R$ 4,00
Ter a oportunidade de registrar um momento como como este, não tem preço.

MAC de Niterói
Michel Groisman e Sung Pyo Hong - Porta das Mãos
26.07 a 28.09

O Iluminado é ele!

Assisti ontem um filme lindíssimo, "Vermelho Como o Céu" (Rosso Come Il Cielo), que conta a história real de Mirco Mencacci, que aos dez anos, já apaixonado por cinema, sofre um acidente ao brincar com o rifle do pai e perde a visão. Em razão de sua deficiência visual é impedido de se matricular em uma escola pública regular - já que no início da década de 70 as leis italianas tratavam os deficientes visuais como inválidos e privava-os de certos direitos - e é enviado a um instituto exclusivo para cegos.

Nesta instituição "especial" Mirco conhece o preconceito através dos olhos também cegos do diretor da escola, que por ter se aprisionado a esta condição, passava a impor limites maiores aos da própria deficiência às crianças.

É uma história de transgressão e superação. Mirco encontra um velho gravador de som e com ele descobre uma nova forma de fazer cinema. Cinema para os ouvidos. Para o coração. Para a alma. Mirco aprende a viver e nos ensina que a liberdade e a imaginação podem servir como um bálsamo para nossas dores, e nos levar para bem longe delas.

Numa das passagens do filme, Mirco e seus amigos - também cegos - gravam o trecho de uma fábula criada por eles, na qual uma princesa é aprisionada em uma torre guardada por um terrível dragão, e seus quinze irmãos - banidos do próprio reino pelo Pai-Rei - tentavam tirá-la de lá a qualquer custo. Diz um deles: "Jamais conseguiremos entrar. O dragão é muito furioso e assustador com aqueles olhos incandescentes". E então o outro responde: "Tenho uma idéia! Conhecemos este castelo de olhos fechados! Vamos vendar os olhos para não temermos mais o dragão, e assim poderemos vencê-lo e salvar a princesa".

[Lindo, lindo...]

E de olhos vendados Mirco venceu o dragão do preconceito, da estupidez, da ignorância, salvou sua preciosa liberdade, deu asas à sua imaginação e voou para muito longe dali. Ouvi dizer que é hoje um dos mais importantes produtores do cinema italiano.

Como ele fez isso? Só vendo o filme para saber!

[Mas eu já contei o final do filme? Contei não... Contei?! Ahhh... Vocês sabem que eu sempre faço isso! Ainda assim o filme vale cada minuto, cada imagem, cada barulhinho. Vale conferir!]

Vermelho como o Céu (Rosso come il Cielo). 2006. Itália. Direção: Cristiano Bortone. Elenco: Luca Capriotti, Paolo Sassaneli, Francesca Maturanza. Gênero: Drama. Duração: 96 minutos. Baseado na história real de Mirco Mencacci.

O Iluminado é ele!

Assisti ontem um filme lindíssimo, "Vermelho Como o Céu" (Rosso Come Il Cielo), que conta a história real de Mirco Mencacci, que aos dez anos, já apaixonado por cinema, sofre um acidente ao brincar com o rifle do pai e perde a visão. Em razão de sua deficiência visual é impedido de se matricular em uma escola pública regular - já que no início da década de 70 as leis italianas tratavam os deficientes visuais como inválidos e privava-os de certos direitos - e é enviado a um instituto exclusivo para cegos.

Nesta instituição "especial" Mirco conhece o preconceito através dos olhos também cegos do diretor da escola, que por ter se aprisionado a esta condição, passava a impor limites maiores aos da própria deficiência às crianças.

É uma história de transgressão e superação. Mirco encontra um velho gravador de som e com ele descobre uma nova forma de fazer cinema. Cinema para os ouvidos. Para o coração. Para a alma. Mirco aprende a viver e nos ensina que a liberdade e a imaginação podem servir como um bálsamo para nossas dores, e nos levar para bem longe delas.

Numa das passagens do filme, Mirco e seus amigos - também cegos - gravam o trecho de uma fábula criada por eles, na qual uma princesa é aprisionada em uma torre guardada por um terrível dragão, e seus quinze irmãos - banidos do próprio reino pelo Pai-Rei - tentavam tirá-la de lá a qualquer custo. Diz um deles: "Jamais conseguiremos entrar. O dragão é muito furioso e assustador com aqueles olhos incandescentes". E então o outro responde: "Tenho uma idéia! Conhecemos este castelo de olhos fechados! Vamos vendar os olhos para não temermos mais o dragão, e assim poderemos vencê-lo e salvar a princesa".

[Lindo, lindo...]

E de olhos vendados Mirco venceu o dragão do preconceito, da estupidez, da ignorância, salvou sua preciosa liberdade, deu asas à sua imaginação e voou para muito longe dali. Ouvi dizer que é hoje um dos mais importantes produtores do cinema italiano.

Como ele fez isso? Só vendo o filme para saber!

[Mas eu já contei o final do filme? Contei não... Contei?! Ahhh... Vocês sabem que eu sempre faço isso! Ainda assim o filme vale cada minuto, cada imagem, cada barulhinho. Vale conferir!]

Vermelho como o Céu (Rosso come il Cielo). 2006. Itália. Direção: Cristiano Bortone. Elenco: Luca Capriotti, Paolo Sassaneli, Francesca Maturanza. Gênero: Drama. Duração: 96 minutos. Baseado na história real de Mirco Mencacci.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Atualíssimo

"O segredo do demagogo é parecer tão tolo quanto sua platéia, de maneira que essas pessoas possam se achar tão espertas quanto ele".

Karl Kraus, escritor austríaco que viveu entre 1874 e 1936. Passou parte da sua vida lutando contra a hipocrisia na sociedade de Viena. Filósofo e redator da revista Fackel (A Tocha).

Atualíssimo

"O segredo do demagogo é parecer tão tolo quanto sua platéia, de maneira que essas pessoas possam se achar tão espertas quanto ele".

Karl Kraus, escritor austríaco que viveu entre 1874 e 1936. Passou parte da sua vida lutando contra a hipocrisia na sociedade de Viena. Filósofo e redator da revista Fackel (A Tocha).

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O Mistério Providencial

No ano do centenário de morte do iluminado Machado de Assis – para falar o menos – o Portal Migalhas e a editora Lettera.doc anunciaram a publicação de um livro intitulado "Doutor Machado - o Direito na obra de Machado de Assis", que como o próprio nome anuncia, aborda a influência do Direito na imprescindível obra deste gênio Imortal.

Apesar da brilhante iniciativa dos autores – uma vez que o fomento à leitura “Machadiana” deve ser sempre reconhecido e exaltado –, confesso que o assunto não me interessou muito. E explico o porquê. Antes que comecem a questionar o comentário inusitado – já que vindo de uma advogada –, devo lhes dizer que, a meu ver, a riqueza da construção literária de Machado de Assis vai MUITO além da simples catalogação dos personagens de sua obra que transitaram pelo universo do Direito, ou das passagens em que utilizou jargões jurídicos para construir figuras de linguagem... Na verdade, o que mais me fascina na obra de Machado de Assis é o seu olhar profundo e libertador sobre o homem, sobre os desejos e contradições de sua alma, que foram tão bem explorados e revelados por ele.

Pois bem.

Em algum dia desta semana recebi um e-mail com o informativo jurídico do Portal Migalhas trazendo uma citação de Machado de Assis – o que vem ocorrendo diariamente para divulgação do tal livro comemorativo, e, devo confessar, tem me proporcionado muito mais prazer na leitura dos boletins:

"O mistério é que lhe dá algum valor; visto de mais perto há de ser vulgar ou hediondo”.

Pensei comigo: ainda que possamos apostar na concepção desta frase a partir da peculiar compreensão do mestre sobre o universo jurídico... fico mesmo com a interpretação lato sensu. Ou em outras palavras:

“De perto, ninguém é normal”.

O Mistério Providencial

No ano do centenário de morte do iluminado Machado de Assis – para falar o menos – o Portal Migalhas e a editora Lettera.doc anunciaram a publicação de um livro intitulado "Doutor Machado - o Direito na obra de Machado de Assis", que como o próprio nome anuncia, aborda a influência do Direito na imprescindível obra deste gênio Imortal.

Apesar da brilhante iniciativa dos autores – uma vez que o fomento à leitura “Machadiana” deve ser sempre reconhecido e exaltado –, confesso que o assunto não me interessou muito. E explico o porquê. Antes que comecem a questionar o comentário inusitado – já que vindo de uma advogada –, devo lhes dizer que, a meu ver, a riqueza da construção literária de Machado de Assis vai MUITO além da simples catalogação dos personagens de sua obra que transitaram pelo universo do Direito, ou das passagens em que utilizou jargões jurídicos para construir figuras de linguagem... Na verdade, o que mais me fascina na obra de Machado de Assis é o seu olhar profundo e libertador sobre o homem, sobre os desejos e contradições de sua alma, que foram tão bem explorados e revelados por ele.

Pois bem.

Em algum dia desta semana recebi um e-mail com o informativo jurídico do Portal Migalhas trazendo uma citação de Machado de Assis – o que vem ocorrendo diariamente para divulgação do tal livro comemorativo, e, devo confessar, tem me proporcionado muito mais prazer na leitura dos boletins:

"O mistério é que lhe dá algum valor; visto de mais perto há de ser vulgar ou hediondo”.

Pensei comigo: ainda que possamos apostar na concepção desta frase a partir da peculiar compreensão do mestre sobre o universo jurídico... fico mesmo com a interpretação lato sensu. Ou em outras palavras:

“De perto, ninguém é normal”.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A Beleza que Mora Aqui em Algum Lugar

A revista Psique do mês de junho (edição 29) – que conheci recentemente e já não consigo parar de ler – trouxe na coluna do escritor e psicanalista Rubem Alves (“Palavras”) um belíssimo artigo sobre o nosso (re)encontro com a beleza...

Tão revelador e profundo, esse texto me encantou, me tocou, me tomou para sempre. Entranhou-se na minha carne ou apenas me levou de encontro àquela verdade, que já estava aqui dentro em algum lugar. Foi como se tudo passasse a fazer sentido a partir dali...

E agora é também de vocês:

“(...) Não é meu costume ouvir música enquanto escrevo. Fico possuído pela música, numa espécie de êxtase e isso faz parar meus pensamentos. Contrariando o meu hábito coloquei no micro um CD de uma peça que nunca ouvira, sonata para violino e piano de César Franck. Minutos depois eu estava chorando. Aí interrompi o choro e fiz um exercício filosófico. Perguntei-me: ‘Por que é que você está chorando?’ A resposta veio fácil: ‘É por causa da beleza...” Continuei: “Mas o que é a experiência de beleza?” Sem uma resposta pronta veio-me algo que aprendi com Platão. Platão, quando não conseguia dar respostas racionais, inventava mitos. Ele contou que, antes de nascer, a alma contempla todas as coisas belas do universo. Essa experiência foi tão forte que todas as infinitas formas de beleza do universo ficam eternamente gravadas na alma. Ao nascer nos esquecemos delas. Mas não as perdemos. A beleza fica em nós, adormecida como um feto. Todos estamos grávidos de beleza, beleza que quer nascer para o mundo qual uma criança. Quando a beleza nasce re-encontramos-nos com nós mesmos e experimentamos a alegria.

Agora vem a minha contribuição. Continuo o mito. Há seres privilegiados – eles bem que poderiam ser chamados de anjos – aos quais é dado acesso a esse mundo espiritual de beleza. Eles vêem e ouvem aquilo que nós nem vemos e nem ouvimos. E eles transformam então o que viram e ouviram em objetos belos que o corpo pode ver e ouvir. É assim que nasce a arte. Ao ouvir uma música que me comove por sua beleza eu me re-encontro com a mesma beleza que estava adormecida dentro de mim.

‘Quando te vi amei-te já muito antes. Tornei a encontrar-te quando te achei.’ Essa é a mais bela declaração de amor que conheço, escrita pelo anjo Fernando Pessoa. Tu já estavas dentro de mim antes que te encontrasse. O nosso encontro não foi encontro; foi re-encontro... Isso que o poeta diz para um homem ou uma mulher pode ser dito também para uma música: ‘Quando te ouvi, ouvi-te muito antes. Tornei a ouvir-te quando te ouvi...’

O que me comoveu, então, não foi a música de César Franck. Foi a sonata que estava adormecida dentro de mim e que a sonata de César Franck fez acordar. Ao me comover com a beleza da música eu me re-encontro com a minha própria beleza. Por isso a música me trás felicidade...”

Fonte: Artigo “Minha música...” de Rubem Alves, Coluna “Palavras”, in Revista Psique Ciência e Vida, número 29.

A Beleza que Mora Aqui em Algum Lugar

A revista Psique do mês de junho (edição 29) – que conheci recentemente e já não consigo parar de ler – trouxe na coluna do escritor e psicanalista Rubem Alves (“Palavras”) um belíssimo artigo sobre o nosso (re)encontro com a beleza...

Tão revelador e profundo, esse texto me encantou, me tocou, me tomou para sempre. Entranhou-se na minha carne ou apenas me levou de encontro àquela verdade, que já estava aqui dentro em algum lugar. Foi como se tudo passasse a fazer sentido a partir dali...

E agora é também de vocês:

“(...) Não é meu costume ouvir música enquanto escrevo. Fico possuído pela música, numa espécie de êxtase e isso faz parar meus pensamentos. Contrariando o meu hábito coloquei no micro um CD de uma peça que nunca ouvira, sonata para violino e piano de César Franck. Minutos depois eu estava chorando. Aí interrompi o choro e fiz um exercício filosófico. Perguntei-me: ‘Por que é que você está chorando?’ A resposta veio fácil: ‘É por causa da beleza...” Continuei: “Mas o que é a experiência de beleza?” Sem uma resposta pronta veio-me algo que aprendi com Platão. Platão, quando não conseguia dar respostas racionais, inventava mitos. Ele contou que, antes de nascer, a alma contempla todas as coisas belas do universo. Essa experiência foi tão forte que todas as infinitas formas de beleza do universo ficam eternamente gravadas na alma. Ao nascer nos esquecemos delas. Mas não as perdemos. A beleza fica em nós, adormecida como um feto. Todos estamos grávidos de beleza, beleza que quer nascer para o mundo qual uma criança. Quando a beleza nasce re-encontramos-nos com nós mesmos e experimentamos a alegria.

Agora vem a minha contribuição. Continuo o mito. Há seres privilegiados – eles bem que poderiam ser chamados de anjos – aos quais é dado acesso a esse mundo espiritual de beleza. Eles vêem e ouvem aquilo que nós nem vemos e nem ouvimos. E eles transformam então o que viram e ouviram em objetos belos que o corpo pode ver e ouvir. É assim que nasce a arte. Ao ouvir uma música que me comove por sua beleza eu me re-encontro com a mesma beleza que estava adormecida dentro de mim.

‘Quando te vi amei-te já muito antes. Tornei a encontrar-te quando te achei.’ Essa é a mais bela declaração de amor que conheço, escrita pelo anjo Fernando Pessoa. Tu já estavas dentro de mim antes que te encontrasse. O nosso encontro não foi encontro; foi re-encontro... Isso que o poeta diz para um homem ou uma mulher pode ser dito também para uma música: ‘Quando te ouvi, ouvi-te muito antes. Tornei a ouvir-te quando te ouvi...’

O que me comoveu, então, não foi a música de César Franck. Foi a sonata que estava adormecida dentro de mim e que a sonata de César Franck fez acordar. Ao me comover com a beleza da música eu me re-encontro com a minha própria beleza. Por isso a música me trás felicidade...”

Fonte: Artigo “Minha música...” de Rubem Alves, Coluna “Palavras”, in Revista Psique Ciência e Vida, número 29.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O Presente Mais Lindo

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"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
.
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure".
(Vinícius de Moraes)

O Presente Mais Lindo

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"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
.
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure".
(Vinícius de Moraes)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

BEIJING é lá em Casa

A campanha está oficialmente lançada!

Em tempos de Lei Seca, vamos fazer dessas Olimpíadas apenas mais uma boa desculpa para reunir os amigos em volta do cooler e treinar: levantamento de copo, arremesso de caroço de azeitona, drinkathlon, lançamento de conversa fora e muitas outras modalidades etílico-esportivas!

Então já sabe: traz a cerveja que os colchonetes ficam por minha conta!

BEIJING é lá em Casa

A campanha está oficialmente lançada!

Em tempos de Lei Seca, vamos fazer dessas Olimpíadas apenas mais uma boa desculpa para reunir os amigos em volta do cooler e treinar: levantamento de copo, arremesso de caroço de azeitona, drinkathlon, lançamento de conversa fora e muitas outras modalidades etílico-esportivas!

Então já sabe: traz a cerveja que os colchonetes ficam por minha conta!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Apesar de.

Há mais ou menos uma semana, enquanto lia o blog do psicanalista curitibano Leonardo Ferrari - o que faço diariamente e recomendo a todos que desejam ver um pouco mais, pensar um pouco mais, sentir um pouco mais, viver um pouco mais... - fui absolutamente tomada pela idéia contida no trecho por ele transcrito do livro de Tom Perrot intitulado "Criancinhas", no qual quatro personagens discutiam as possíveis motivações de Madame Bovary - personagem da obra clássica de Flaubert - que reiteradamente traía seu marido, tido por todos como um bom homem, um bom marido, uma boa opção, uma boa possibilidade de parceria.

A todos parecia ele uma boa escolha. Enquanto a ela - ao contrário - parecia apenas o símbolo daquilo que não pôde escolher, do que lhe foi imposto: do que impedia seu movimento, refugiava sua infelicidade.

Reflete, então, uma das personagens de Perrot que a grande questão do drama seria, na verdade, não a traição em si, mas sim a revelação do "anseio por uma alternativa. A recusa em aceitar a infelicidade".

[Lindo isso]

Sim, ela se recusa a aceitar a infelicidade. Ela se rebela. Ela escolhe escolher. E age. E em sua marcha, antes de garantir fidelidade ao outro, decide ser fiel a si mesma.

E não foge. Ela enfrenta o medo que lhe fez ficar até então, e parte em busca daquela que pensa ser a melhor chance de alcançar a felicidade. E o faz da única forma que sabe fazer, da única forma que consegue fazer, da única forma que pode fazer naquele momento.

E sofre.

Ela não se conforma. Não se conforma. Ninguém se conforma. E desde então nos colocamos a procurar uma resposta para esse impulso tão bravo quanto delinqüente. Tão nobre quanto condenável. Tão inspirador quanto execrável. Hesitamos, na verdade, por aquilo que é tão dela quanto nosso: tudo o que é feio, inadequado, imperfeito. Tão ilustrativo quanto desconcertante. Tão humano. Tão humano...

E arrisca a personagem da história - que conta a história daquela outra história - a concluir que talvez ela não tenha sido feliz em sua busca porque cometeu "adultério com perdedores": por não ter encontrado "um parceiro digno de sua paixão heróica".

O difícil nessa história é saber quem perde e quem ganha quando todos, na verdade, apenas sofrem. E se perdem, perdem apenas a oportunidade. Oportunidade perdida não se ter coragem de enfrentar seus próprios demônios, desafiar seus próprios limites, desbravar seu próprio caminho. Oportunidade perdida por aquele tão inconformado com sua infelicidade quanto disposto a escolher viver uma vida por ele escolhida. Como ela fez.

Ela partiu rumo ao seu sonho.
E "apesar de" escolheu lutar.
"Apesar de" escolheu sentir.
"Apesar de" escolheu amar.
Só não encontrou um parceiro digno de sua paixão heróica.
Ainda não.

Apesar de.

Há mais ou menos uma semana, enquanto lia o blog do psicanalista curitibano Leonardo Ferrari - o que faço diariamente e recomendo a todos que desejam ver um pouco mais, pensar um pouco mais, sentir um pouco mais, viver um pouco mais... - fui absolutamente tomada pela idéia contida no trecho por ele transcrito do livro de Tom Perrot intitulado "Criancinhas", no qual quatro personagens discutiam as possíveis motivações de Madame Bovary - personagem da obra clássica de Flaubert - que reiteradamente traía seu marido, tido por todos como um bom homem, um bom marido, uma boa opção, uma boa possibilidade de parceria.

A todos parecia ele uma boa escolha. Enquanto a ela - ao contrário - parecia apenas o símbolo daquilo que não pôde escolher, do que lhe foi imposto: do que impedia seu movimento, refugiava sua infelicidade.

Reflete, então, uma das personagens de Perrot que a grande questão do drama seria, na verdade, não a traição em si, mas sim a revelação do "anseio por uma alternativa. A recusa em aceitar a infelicidade".

[Lindo isso]

Sim, ela se recusa a aceitar a infelicidade. Ela se rebela. Ela escolhe escolher. E age. E em sua marcha, antes de garantir fidelidade ao outro, decide ser fiel a si mesma.

E não foge. Ela enfrenta o medo que lhe fez ficar até então, e parte em busca daquela que pensa ser a melhor chance de alcançar a felicidade. E o faz da única forma que sabe fazer, da única forma que consegue fazer, da única forma que pode fazer naquele momento.

E sofre.

Ela não se conforma. Não se conforma. Ninguém se conforma. E desde então nos colocamos a procurar uma resposta para esse impulso tão bravo quanto delinqüente. Tão nobre quanto condenável. Tão inspirador quanto execrável. Hesitamos, na verdade, por aquilo que é tão dela quanto nosso: tudo o que é feio, inadequado, imperfeito. Tão ilustrativo quanto desconcertante. Tão humano. Tão humano...

E arrisca a personagem da história - que conta a história daquela outra história - a concluir que talvez ela não tenha sido feliz em sua busca porque cometeu "adultério com perdedores": por não ter encontrado "um parceiro digno de sua paixão heróica".

O difícil nessa história é saber quem perde e quem ganha quando todos, na verdade, apenas sofrem. E se perdem, perdem apenas a oportunidade. Oportunidade perdida não se ter coragem de enfrentar seus próprios demônios, desafiar seus próprios limites, desbravar seu próprio caminho. Oportunidade perdida por aquele tão inconformado com sua infelicidade quanto disposto a escolher viver uma vida por ele escolhida. Como ela fez.

Ela partiu rumo ao seu sonho.
E "apesar de" escolheu lutar.
"Apesar de" escolheu sentir.
"Apesar de" escolheu amar.
Só não encontrou um parceiro digno de sua paixão heróica.
Ainda não.