terça-feira, 4 de novembro de 2008

No Corpo

O corpo começa a gritar as dores da alma...
Trinta e oito graus de febre e muita, mas muita dor de cabeça...
Para o corpo, sossego.
Para a alma, poesia.

"Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto
- Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa".

[Hoje, só para doer... ]
Até amanhã, meus queridos, até amanhã...

(Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, Estou cansado)

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