terça-feira, 10 de agosto de 2010

Por toda uma vida

(Autor desconhecido)

"Estavam num quarto do Over, o motel onde tudo se iniciara e agora tudo se acabava. Tinham acabado de fazer amor, uma expressão que ele sempre abominara. Preferia copular. Não, já não era a mesma coisa. A chama que sempre flamejara com fúria sumira. Ele, depois de cinco anos, a percebera distante. A distância que vira nela o fizera afastar-se também. Era a última vez. Um certo momento ele pareceu ver, ali naquele mesmo quarto, o casal tão cheio de vida, fé e paixão de cinco anos antes. Ela tinha tirado a roupa, naquela primeira vez, e ele parecia não saber o que fazer. 'Você não vem?', perguntou ela. Não foi uma primeira vez gloriosa, mas depois viriam tais e tantas glórias, e tais e tantas misérias, que tudo o que acontecera antes para cada um dos dois tornou-se irrelevante como um tíquete já usado.

'Me diz a coisa mais bonita que você já disse a alguém', pediu ele no instante da separação. 'Você é o homem da minha vida. Uma vez perguntaram para a Tônia Carreiro sobre seu romance com o Rubem Braga. Valeu cem anos, ela respondeu. O nosso também. Cem anos'. Quando ela saiu do carro dele para nunca mais, ele ainda a chamou uma última vez.

'Me beija. Me beija por toda uma vida'.

E então eles se beijaram por toda uma vida".

(Texto "E então se beijaram por toda uma vida" de Fabio Hernandez, publicado em 10.ago.10, no blog Confissões de um Homem Sincero)

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