segunda-feira, 15 de março de 2010

Sob as Estrelas

(Zoe Bertgang por Gosso-Anton, Russia, 1998)
.
Todos os dias, passava debaixo de sua sacada procurando por ela.
Os meses seguiram e, todos os dias, passava por ela procurando debaixo de sua sacada.
Os anos se foram e toda sacada passava pelos seus dias procurando debaixo dela.
Uma tarde, enfim, ela desceu, se aproximou e perguntou, "o que queres de mim".
"De ti, nada", disse ele. "Gosto mesmo é de estrelas".
"E o que o traz aqui", insistiu. "Ao cair da noite, deixe-me subir por um instante. Deixe-me olhar de sua sacada e lhe ensinarei a pisar estrelas. Depois disso, prometo partir".
.
E com os olhos cheios d'água, disse ela, "então, condenados estamos os dois. Não à partida, mas ao desencontro. Não o deixarei subir. Continuarás voltando em busca da sacada para pisar estrelas, e eu, 'tresloucada' que sou, seguirei aqui conversando com elas, ainda que me perguntem que sentido há no que digo, já que não estão comigo. 'E eu vos direi: Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas'".
.
(Lembrando Olavo Bilac em "Ouvir Estrelas", Poesias, Via-Láctea, 1888)

Um comentário:

Leonard M. Capibaribe disse...

Desencontros... Se não fosse pela Europa, teria alguém... Se não fosse por um amigo, seria feliz... Tantos "se", como estrelas sem saber pisar...