terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mariposa e Lamparina

Entrando de sola na segunda estrofe, Lenine vem andando, Lenine vem crescendo, descendo e se aproximando de sua Bela-Fera...
Vida ardendo.
Crepitando.


.
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar
.
Vi a cidade passando,
Rugindo, através de mim
Cada vida era a batida
Dum imenso tamborim
Eu era o lugar, ela era a viagem
Cada um era real, cada outro era miragem
.
Eu era transparente, era gigante,
Eu era a cruza entre o sempre e o instante,
Letras misturadas com metal
E a cidade crescia como um animal
Em estruturas postiças,
Sobre areias movediças,
Sobre ossadas e carniças,
Sobre o pântano que cobre o sambaqui
Sobre o país ancestral
Sobre a folha do jornal
Sobre a cama de casal onde eu nasci
.
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar
.
A cidade
Passou me lavrando todo
A cidade
Chegou me passou no rodo
Passou como um caminhão
Passa através de um segundo
Quando desce a ladeira na banguela
Veio com luzes e sons
Com sonhos maus, sonhos bons
Falava como um Camões
Gemia feito pantera
Ela era...
Bela... fera
.
Desta cidade um dia só restará
O vento que levou meu verso embora
Mas onde ele estiver, ela estará:
Um será o mundo de dentro,
Será o outro o mundo de fora
.
Vi a cidade fervendo
Na emulsão da retina
Crepitar de vida ardendo,
Mariposa e lamparina
A cidade ensurdecia,
Rugia como um incêndio
Era veneno e vacina
.
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar
.
Eu pairava no ar, e olhava a cidade
Passando veloz lá embaixo de mim
Eram dez milhões de mentes
Dez milhões de inconscientes
Se misturam... viram entes
Os quais conduzem as gentes
Como se fossem correntes
Dum rio que não tem fim
.
Esse ruído
São os séculos pingando...
E as cidades crescendo e se cruzando
Como círculos na água da lagoa.
E eu vi nuvens de poeira
E vi uma tribo inteira
Fugindo em toda carreira
Pisando em roça e fogueira
Ganhando uma ribanceira
E a cidade vinha vindo...
A cidade vinha andando
A cidade intumescendo:
Crescendo... se aproximando
.
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar...
.
("Lá vem a Cidade", de Lenine e Bráulio Tavares, faixa do álbum Labiata, 2008)
Vida ardendo na canção.
Crepitando no palco.
Espetáculo que eu conheço. Reconheço!
Da platéia eu pago para assistir.

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