terça-feira, 21 de julho de 2009

Hera

(Gisele Bündchen por Paul Vainer in Revista Photo, França, Junho/2009)

“Se o corpo do eleito é para a minha fantasia um arquipélago de focos de excitação do meu desejo e o suporte vivo das minhas imagens, o que sou eu, eu e meu corpo, para a fantasia dele? Justamente, a metáfora da hera é muito evocadora, pois a hera é uma planta que não só rasteja e sobe, mas engancha as suas hastes em lugares bem específicos da pedra, nas rachaduras e nas fendas. Do mesmo modo, o meu apego ao outro eleito que se tornou meu objeto fantasiado, é uma sutura que não pega em qualquer lugar, mas muito exatamente nos orifícios erógenos do corpo, ali onde ele próprio irradia o seu desejo e me excita, sem com isso conseguir me satisfazer. E, reciprocamente, é no meu corpo, nos pontos de emissão do meu próprio desejo, que a fantasia dele se fixará.
(...)
Se considero o eleito insubstituível, é porque meu desejo se modelou progressivamente pelas sinuosidades do fluxo vibrante do seu próprio desejo. Ele é considerado insubstituível porque ninguém mais poderia acompanhar tão finamente o ritmo do meu desejo. Como se o eleito fosse antes de tudo um corpo, que pouco a pouco se aproxima, se posiciona e se ajusta aos batimentos do meu ritmo. Como se as pulsações da sua sensibilidade dançassem na mesma cadência que as minhas próprias pulsações, e os nossos corpos se excitassem mutuamente. Assim a cadência do meu desejo se harmoniza com a minha própria cadência, e cada uma das variações da sua tensão responde em eco a cada uma das minhas. Algumas vezes, o encontro é suave e progressivo; outras, violento e imediato. Entretanto, se é verdade que as trocas erógenas podem ser harmoniosas, as satisfações resultantes continuam sendo para cada um dos parceiros satisfações sempre singulares, parciais e discordantes. Nossas trocas se afinam, mas nossas satisfações desafinam”.

(Juan David Nasio in A Dor de Amar, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 58/59, 62/63)

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