quinta-feira, 18 de junho de 2009

Essência

(Fotografia de Amy-Sha, wedding photographer, Manchester, Reino Unido)

Estava em viagem. Havia preparativos para uma nova viagem em breve. Uma festa aconteceria em outro lugar, talvez um casamento. Passava pelas lojas da cidade pensando em comprar alguns detalhes, mas ainda não sabia o quê. A certeza de poder comprar com o próprio dinheiro era a única que tinha. E o que mais importava àquela altura.

Em uma das lojas avistou perfumes. Pensou que como já tinha o seu talvez não precisasse de outro, mas decidiu comprar um novo mesmo assim. Sentiu a fragrância de alguns deles e um em especial lhe chamou a atenção, o Infinity, mas achou muito doce. Preferiu outro, o Parfum de Femme, que, apesar do nome lhe parecer bem demodée, custava o mesmo preço do primeiro e tinha um aroma bem mais suave e agradável. Bem possível usar por toda a vida - pensou -, apesar de não ser infinito.

Comprou o perfume, mas a dúvida persistia. Agora pensava se realmente deveria ter gasto dinheiro com aquilo, se não teria comprado à toa, mas logo se lembrou de como o perfume estava barato – vinte e três moedas daquele lugar –, e o quanto ficara feliz por ter conquistado aquela nova essência.

Seguiu caminho e em uma loja adiante observou que anéis, colares e outros adornos eram ofertados gratuitamente em um tabuleiro – “graciosamente” foi a palavra que lhe veio à mente naquele instante. Aproximou-se do balcão e encantou-se com os anéis. Havia peças muito bonitas, mas receou se deveria pegá-las, se agiria corretamente ao aceitar a oferta, mas logo percebeu que não havia nada de errado nisso, uma vez que as prendas eram dadas de graça - e com graça -, e em como estava feliz com aquele presente, que, apesar de não precisar, já lhe fazia falta.

Levou-os consigo e passou a procurar por pai e filho para seguirem viagem.

Chegaram a um porto. Era noite. O medo de embarcar lhe assaltou. Não sabe ao certo do quê, talvez medo de morrer. Carregava as sacolas de valor, mas só naquele instante se deu conta de que havia esquecido de trazer consigo o vestido para a festa. Por um momento percebeu que a gravata do pai estava suja. Procurou uma solução, mas não encontrou nenhuma. Muitas pessoas se agitavam no convés e, descobrindo-se viva, teve medo de perder o que havia conquistado até ali.

Soube, então, que ainda teria muito trabalho pela frente.
E que precisaria cuidar bem do que é seu.

2 comentários:

Leonard M. Capibaribe disse...

"...apesar de não precisar, já lhe fazia falta."
Adorei essa frase... Quantas vezes já não senti falta de coisas quem nem precisava. Estava alí, a minha disposição, de graça. Deixei passar e senti a falta. Muito bonita a imagem que me passa essa frase... Cabe para muitas coisas... E pessoas...

Isabela Dantas disse...

É questão de suplemento e não de complemento...
Por isso tão importante. Por isso tão bonito.
Por isso faz falta...