domingo, 1 de março de 2009

A Presença na Ausência

(Mulher que espera uma chegada, uma volta, um sinal prometido de Chico enquanto transforma a agonia em melodia com sua cuíca )
Na muldião, no Leblon, uma senhora de idade sambava, suava e sorria, quando de repente olhou para mim, desconhecida, e afirmou com segurança:
- Ele vem. Ele vem!

A reconheci na hora e respondi sem medo:
- Não! Ele já está aqui! Por todos os lados!!!

"O que me enche assim? Uma totalidade? Não. Algo que, partindo da totalidade, vem a excedê-la: uma totalidade sem complemento, um total sem restrição, um lugar sem nada ao lado ('minha alma não está apenas preenchida, extravasa'). (...) Milagre: deixando atrás de mim toda 'satisfação', nem farto nem saturado, ultrapasso os limites da saciedade, e, em vez de encontrar o desgosto, a náusea, ou mesmo a embriaguez, descubro... a Coincidência. A desmedida me conduziu à medida; colo na Imagem, nossas medidas são as mesmas: exatidão, justeza, música: acabei com o não chega. Vivo então a assunção definitiva do Imaginário, seu triunfo".

(Roland Barthes em "Fragmentos de um Discurso Amoroso, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 192)

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