terça-feira, 25 de novembro de 2008

Um abraço em José

Passando os olhos pelo O Globo on line antes de dormir, vejo lá a matéria de Márcia Abos, fresquinha, publicada às 19h43min, com a chamada:
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"Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo", desabafa Saramago".
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Como assim...???
Fiquei preocupada...
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José Saramago está no Brasil para o lançamento do seu livro "A Viagem do Elefante" e inauguração da exposição "A Consistência dos Sonhos" que reúne mais de 1.200 peças do autor entre documentos, manuscritos, primeiras edições, agendas e coisa e tal.
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Diz a matéria que esse homem, que me falou pela primeira vez de uma cegueira branca que era a minha; que me falou daquela coisa que não tem nome, que não tem certo, que não tem rota, que somos nós; que me falou da imensa responsabilidade daqueles que enxergam a miséria humana frente aos outros que apenas sofrem na mesma condição; que esse homem, hoje triste, "instaurou a perplexidade" entre os jornalistas, no Consulado de Portugal, na entrevista coletiva concedida esta tarde, ao declarar que:
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"- Nessa longa história da humanidade, em que ponto tomamos uma direção errada que nos levou ao desastre que estamos hoje, do qual somos responsáveis? A literatura pode salvar o mundo? Mas salvar o mundo como? Principalmente depois de tudo o que já se escreveu. Como não conseguimos mudar o rumo de nossas vidas?"
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[Como não? Como não?!! Como não???!!!!!!]
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E continuou o mestre: "Quantos delinqüentes existem no mundo? A violência já atingiu o nível da barbárie. A corrupção chegou a tal ponto que é um problema de linguagem. A palavra bondade hoje significa qualquer coisa de ridículo. É preciso conquistar, triunfar. Ninguém se arrisca a dizer que o seu objetivo é ser bom. Querer ser bom em uma época como esta é se apresentar como voluntário para a eliminação. Como chegamos a isso? - indagou sinalizando que a saída é a transformação individual - para mudarmos a vida, é preciso mudarmos de vida".
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Sim, José, é preciso mudarmos de vida, para mudarmos a vida, sem dúvida, e seguindo o mesmo raciocínio, é preciso salvarmos a nós mesmos para salvarmos o mundo. E quando se pergunta se a literatura pode salvar o mundo, fico aqui pensando em quantas vidas não já foram salvas, não mudaram de rumo, de rota e se transformaram por completo através da literatura, da SUA literatura, José, quantas? Penso que o mundo é salvo assim: toda vez que uma vida é salva. É o mundo de cada um, é a vida em sua melhor expressão. E A bondade só será ridícula quando já não houver dor e miséria... até lá, a bondade, a generosidade, a caridade serão sempre praticadas, reconhecidas e valorizadas. Sempre. Isso é tão humano quanto o que há de mais odioso em nós.
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E você sabe disso - claro que sabe -, mas talvez esteja triste demais para lembrar; talvez cansado demais para seguir... Confesso que continuei a minha leitura com uma dor no coração, com uma saudade apertada, atravessada, pensando na dureza da vida quando as forças para caminhar escasseiam... quando de repente - não mais que de repente -, ao me aproximar do final da matéria, me deparo com a seguinte informação:
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Lançamento do livro "A Viagem do Elefante" no Rio - Quarta-feira, 26/11, às 17h30, no salão nobre do Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras - Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo - Tel: 21 3974-2500.
Adivinha?!
Amanhã vou tomar o chá das cinco com José, vou lhe dar um abraço bem apertado e lhe dizer - com sorte - que ele nem sabe, mas o mundo já foi salvo, graças a ele.

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