terça-feira, 28 de outubro de 2008

Para Além do meu Saco!

Prezada Senhora da Uno,

Tudo o que eu queria àquela altura do campeonato era estacionar o meu carro, calmamente, e sair para almoçar. Nada mais, nada menos.

Depois de subir umas cinco ou seis rampas do estacionamento daquele shopping mais conhecido por suas subidas do que por seu terraço, por seus restaurantes, seus atrativos, você escolheu colar justamente no meu carro. Justo no meu carro. Por que logo no meu? Tantas outras pessoas tentando estacionar os seus carros no shopping, calmamente, e sair para almoçar, mas você escolheu justo o meu carro.

Tudo bem. A senhora deve ter tido os seus motivos, entendo, mas eu também não estava num bom dia. Avistei a vaga e só conseguia pensar em estacionar o carro, calmamente, e sair para almoçar. Eu não vi a senhora. Só vi a vaga. E queria estacionar. A senhora também não me viu. Sabe-se lá o que viu além do caminho. Aquele obstado por mim. Que queria passar. Que queria seguir. Que queria ir. Não nos importamos com nada além daquele impulso, daquele movimento ego-centrado. Você poderia ter voltado um pouco atrás, eu poderia ter ido mais à frente. Mas não. Não deu. Batemos. O choque foi uma bobagem, não houve dano, não houve vítima. Foi apenas o susto, o sobressalto, o despertar, a certeza do que somos, ali, frente a frente, ao lado dos carros intactos.

“Vamos ver o estrago que você fez no meu carro”, você disse.
“Não há qualquer estrago, minha senhora, já pude ver. Houve apenas uma distração e um susto, pelos quais me desculpo na medida de minha responsabilidade”.
“Você viu o que fez com o meu carro?”, você disse.
“Estava apenas tentando estacionar o meu carro, que acabou encostando ao seu. Não percebi que o carro da senhora, que vinha atrás, estava tão próximo ao meu”.
“É... visivelmente, não houve nada. Mas eu quero o seu telefone para ligar caso perceba, mais tarde (!!!), ter havido alguma avaria no meu automóvel”, você disse.

Velha filha da puta. Foi aí a minha desgraça. Eu tentei me manter calma, lúcida e educada o tempo todo, mas as pessoas não são assim. As pessoas são mesquinhas. São filhas da puta. São egoístas, manipuladoras e... filhas da puta (de novo)! Naquele momento em que a desgraçada me pediu o telefone eu deveria ter lhe dito apenas:

- Minha senhora, eu não reconheço ter sido a causadora de NENHUMA avaria no seu automóvel que, diga-se de passagem, VINHA NA MINHA TRASEIRA E NÃO MANTINHA A DISTÂNCIA ADEQUADA E NECESSÁRIA À SEGURANÇA DE TODOS NÓS. Se quiser, fique a vontade para anotar a minha placa.

E então eu poderia virar às costas, trancar o meu carro, calmamente, e sair para almoçar.

Mas não. “Pobre” velha filha da puta e problemática. Ela não tem culpa de ser neurótica. Não vou ser mal-educada. Vou dar o exemplo de boa-educação e civilidade.
E para quê, porra?! Eu agora me pergunto! Para quê??!!

A desgraçada da velha além de me destratar, de tentar transferir para mim uma responsabilidade que era nossa – por um fato que não teve qualquer implicação prática, diga-se de passagem – ainda quis o meu telefone, deixando clara toda a sua prepotência!

Porra, isso é inacreditável! É o cúmulo da arrogância!
E o pior: EU DEI! Eu dei a porra do meu cartão para aquela velha desgraçada!
E sabe para quê? Para não ser mal-educada. Para ser razoável. Equilibrada. Para tentar resolver a situação de forma civilizada.
E para quê - eu pergunto? Para absolutamente nada. Para porra nenhuma!

Me agredi. Me violentei gratuitamente. Por nada. Por ninguém. Em nome de uma aparência. De um conceito. Em nome de uma expectativa perante o olhar do outro, que já não me interessa mais do que o meu próprio. Em nome de uma perfeita conduta impraticável. De uma educação acanhada e mentirosa. De uma pseudo-civilidade hipócrita e babaca.

Um simples “dá licença, minha senhora, tenho mais o que fazer” seria o bastante. Mas não. Eu quis mais. Eu quis fazer melhor do que isso. Eu quis demonstrar uma tolerância, uma paciência e uma isenção que NÃO SÃO MINHAS. Que ótimo. E aqui estou eu, vinte e quatro horas depois, vomitando marimbondo para não morrer envenenada.

Ela foi às suas compras, certamente mais leve. Afinal, conseguiu transferir para mim parte do seu ódio e seguiu em frente – exatamente o que pretendia desde o momento em que se aproximou demasiadamente do meu carro: passar por cima e ir embora.

E eu, como uma boa idiota, segui revoltada para o meu almoço – que foi péssimo – e as fantasias de destruição eram tantas que, na volta, cheguei a procurar o carro da filha da puta da velha no estacionamento para dar uma boa porrada na traseira e deixar um bilhete: “Agora você tem um bom motivo para me ligar, sua velha filha da puta”.

Mas logo me lembrei que dano doloso é crime, e que a minha auto-agressão já havia sido penosa o bastante, não merecendo um novo encontro com aquela velha filha da puta em uma sala de audiências de um Juizado Criminal...

Passou, melhor esquecer.
Vou embora. Escolho sair do meu estacionamento, calmamente.
Ligo o motor e sigo viagem.

Agora... só torço para que ela me ligue.
Ah, isso eu torço...

[E o sorriso me volta aos lábios...]

8 comentários:

Renata disse...

Minha amiga Bela, Belíssima, nessas horas temos que descer do salto e soltar aquele sonoro... Vai se fuder FILHA DA PUTAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
BJ CHIQUÉRRIMA!!!

Renata disse...

Ah! Já ia me esquecendo... Sorria mesmo, sorria sempre, afinal vc é linda, amada, inteligente, querida e não tem motivos p ser como a carranca do "acidente". Além disso, não aconteceu nada com o lindão do tchury-móvel!rsrsrsrs
P.S - Tadinha... Ela vai ter que voltar p casa de UNO!hahahahaha

Isabela Dantas disse...

AHAHAHAHAHAHAHA...
Velha filha da puta...
Agora que me lembrei que TAMBÉM peguei o telefone dela, acho que vou colocar em ação aquele seu plano incrível:
- Alô, é da casa da velha filha da puta?
- Sim, é ela falando.
- O seu carro, afinal, está mesmo sem avarias?
- Sim, está.
- Que ótimo, porque o meu não. A senhora danificou a traseira do meu automóvel e eu gostaria de saber o seu endereço para mandar a conta!

DEMAAAAAIS!!!

Beijos, minha querida!!!

Anônimo disse...

MULHER no volante,PERIGO constante.

Não tem jeito,quando não é mulher é VELHO.

Quando não é UNO,é CHEVETTE que atrapaha.

Uma simples vaga...

Não seria mais prático pegar um ônibus?

Que mundo perigoso!!!

Anônimo

Isabela Dantas disse...

ANÔNIMO:

Muito PERTINENTE o seu comentário!
Mulher ao volante, velha ao volante, homem ao volante, criança (paulista) ao volante, bêbados, bipolares, histéricas, psicopatas, playboys, dondocas, dautônicos, ANÔNIMOS, motoristas de taxi e de ônibus ao volante, PERIGO CONSTANTE!

O mundo está cheio de seres humanos. Por isso, cada vez mais perigoso!

Ônibus? Não...
Quem quer o caminho mais prático?

Renata disse...

Realmente... "Seres" no volante perigo constante! Freud explica!!!rs
Viva a psicanálise!!!!!!!!!rs

Anônimo disse...

Desculpe!!!!

Foi brincadeirinha,não consegui resistir.
Não me exclua,adoro o seu blog.

Abraços

Anônimo

Isabela Dantas disse...

RENATA:
Um VIVA a ela!
Um outro a nós!
Beijos, querida!

ANÔNIMO:
Desculpar? Você?
Por quê???
Quando lê o meu blog e comenta meus textos - ainda que tentando me provocar - é só atenção que me dá! E escolho interpretar isso como carinho!
Não lhe excluirei, tenha certeza!

Abraços!