sexta-feira, 18 de abril de 2008

Neuróticos S.A.

Sinto sua falta pra caralho.

Desculpe.
Não posso ser sua amiga e ainda não sei o que fazer com isso.

Sofro. Penso em você a maior parte do tempo.

Sinto saudade de sentar perto de você e me esquecer do resto.
Saudade de falar, falar e falar o que imaginava que só você era capaz de entender.
Saudade de olhar suas mãos enquanto digitava.
Saudade de ficar olhando a sua nuca e desviar a atenção pra qualquer outro lugar quando voltava a cadeira para mim.
Saudade do seu beijo. Do seu abraço.
Saudade do jeito como me tocava e de como me sentia especial ao seu lado.
Saudade. Saudade. Saudade.

Pra caralho.

Uma vez escrevi uma carta. Nunca enviei. Assim como estou escrevendo este e-mail catártico.
A carta era para o pai do meu filho. Já estávamos separados. Lá eu falava sobre mil coisas que senti e também não me permiti contar a ele. Depois de três anos publiquei a carta no blog que criei, há duas semanas. Senti-me um pouco melhor, mas tive a nítida sensação de que passei a minha vida tentando mais dar aos outros o que eles desejavam de mim, do que, talvez, me permitindo lhes dar a oportunidade de conhecer a pessoa que sou de verdade, com tudo o que tenho, de bom e de ruim. Entende? Claro que entende...

Enquanto escrevo a 21ª linha deste e-mail tenho a plena convicção de que isso também não chegará a você nunca.
Sei lá. Agora que escrevi, estou começando a achar que vou mandar...

Mandar pra quê?
Não sei. Pra mandar. Pra te contar.
Contar pra quê?
Também não sei. Nunca fiz isso antes.
Às vezes acho que você não gosta de mim. Às vezes acho que gosta.
Na verdade, acho que você gosta e não gosta.
Eu também acho que gosto e não gosto de você.
Normal, acho.

A única coisa que SEI mesmo é que escrevo para não gritar.
Escrevo para conseguir levantar da cadeira da minha sala, atravessar o escritório e não olhar para você.
Para manter os olhos no monitor e não olhar – nunca mais – para a sua sala.
Escrevo para conseguir me manter esguia, com a coluna ereta. Andar em cima desse salto 10.
Para cruzar com você no corredor e, eventualmente, lhe desejar um bom dia.
(Bom dia sempre sincero, porque quando quero que você se dane nem lhe dirijo a palavra).
Escrevo para não entrar na sua sala e te sacudir.
Para não entrar na sua sala e te beijar.

Que merda.

Medo pra cacete de mandar essa merda.
Então não mando e pronto.
Faço como a outra carta: imprimo, enfio na gaveta e publico no blog daqui a três anos quando não sentir mais nada por você.
Assim é mais seguro.
Seguro?
E o que eu ganho com isso?
Nada.
E se eu mandar? O que ganho?
Nada também. Afinal, Conheço seu caráter obsessivo, com aquela maldita necessidade de se relacionar com apenas 50% da capacidade – parte apanhando, parte se punindo por apanhar tanto –, utilizando todo o resto da sua energia para pensar pra caralho em mil histórias “super-hiper-mega-ultra-convincentes” de que, de fato, o caminho escolhido é temporariamente o melhor de todos, considerando o seu plano infalível para a concretização da vida perfeita, que será possível logo ali adiante. Aí logo muda de idéia, passando a pensar que talvez chutar o balde seja a melhor solução; momento em que percebe que se esqueceu de levar o cachorro ao veterinário, de comprar as pilhas do brinquedo do filho, de preparar o recurso cujo prazo é amanhã. E ainda tem que decidir: “Sapato preto com cinto marrom? Não, cinto preto. Não, cinto marrom. Isso. Marrom. Tenho que começar a ousar na vida”.

Que ótimo.

Estou há quase 20 minutos escrevendo um e-mail, que não vou mandar, a um cara que caga pra mim.
Isso está me cheirando a sintoma...
Maldita histeria.

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